Brasil na COP30: o que o país precisa fazer para liderar soluções climáticas em novembro
O Brasil se prepara para resolver a COP30 em meio a impasses políticos, desafios climáticos, cobranças por financiamento e críticas à exploração de combustíveis fósseis.

As negociações climáticas que antecederam a COP30, marcada para novembro em Belém (PA), revelaram um cenário repleto de obstáculos. Durante duas semanas de encontros em Bonn, na Alemanha, os representantes dos países revelaram que, embora exista consciência da urgência climática, os entraves geopolíticos, financeiros e estruturais ainda dominam a pauta.
Metas climáticas falham e tensões entre países acendem alerta para a COP30
O principal objetivo da COP30 será revisar os planos climáticos de cada país, os chamados Compromissos Nacionalmente Determinados (NDCs). Esses documentos, exigidos pelo Acordo de Paris, definem metas de redução de emissões até 2035. No entanto, poucos países cumprem as suas propostas dentro do prazo inicial, o que levanta preocupações sobre a efetividade da próxima cúpula.
Enquanto o Brasil pressionava para que todos enviassem seus NDCs até setembro, especialistas temem que, mesmo que cheguem a tempo, as metas não serão suficientes para limitar o aquecimento global a 1,5°C. Sem poder exigir alterações, o país hospedado terá que encontrar formas de colaboração e ajustes que fortaleçam os compromissos reforçados.
Como destacou um dos participantes em Bonn: “Há países que preferem a estagnação à transparência, muitas vezes escondendo interesses fósseis sob argumentos técnicos”.
Sem recursos, países pobres ficam à margem da luta contra o colapso climático
A questão do financiamento climático segue como um dos pontos mais delicados. Os países em desenvolvimento continuam enfrentando eventos extremos — como secas, enchentes e ondas de calor — sem acesso real aos recursos prometidos.
A meta anunciada na COP29 prevê US$ 1,3 trilhão por ano até 2035, sendo ao menos US$ 300 bilhões de fontes públicas. Contudo, ainda não existe um plano operacional que detalhe como esse dinheiro será mobilizado.

Durante as conversas em Bonn, o sul-africano Richard Sherman resumiu o sentimento geral: "Não há dinheiro. Os fundos que temos hoje não atendem à demanda."
Brasil e Azerbaijão trabalham juntos para apresentar um roteiro mais claro, mas a expectativa é de que uma proposta inclua ações concretas — e não apenas promessas genéricas.
País tenta equilibrar imagem verde com exploração de combustíveis fósseis
Escolher Belém como sede da COP30 foi uma tentativa de destacar a importância da Amazônia como reguladora climática global.
A floresta pode atingir um ponto de não retorno, transformando-se em uma savana, o que seria desastroso para o planeta. Porém, a visibilidade também destacou as contradições da política energética brasileira.
Recentemente, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) anunciou um leilão para exploração de 172 blocos de petróleo e gás, incluindo áreas sensíveis na foz do Rio Amazonas. A medida, chamada pelos ambientalistas de “leilão do juízo final”, contrariamente ao discurso de proteção ambiental.
Questionada sobre o tema, Ana Toni, presidente da COP30, defendeu uma abordagem mais inclusiva: "A transição é responsabilidade de todos - não apenas dos produtores. Os países consumidores também precisam se comprometer."
Mutirão e improviso: como o Brasil tenta salvar a imagem da Cop30
Com previsão de mais de 60 mil participantes, Belém enfrentará um grande desafio logístico. Muitos ainda não oferecem garantia de hospedagem, e alternativas como cruzeiros e contêineres estão sendo cogitadas. Sem soluções viáveis, existe o risco de uma conferência se tornar excludente, beneficiando apenas delegações com maior poder aquisitivo.
Como gesto simbólico, o Brasil propôs a realização de um “mutirão”, palavra de origem indígena usada para descrever um esforço coletivo. A ideia é promover reuniões colaborativas entre os países, inspiradas nas tradições locais, para buscar soluções compartilhadas.
No entanto, mesmo com iniciativas inovadoras, os desafios continuam. A resistência de alguns países inclui cortes de metano nos NDCs, o impasse sobre a sucessão da presidência da COP31 e o excesso de projetos isolados sem continuidade são apenas algumas das pedras no caminho.