Mosca-da-carambola no radar: por que uma armadilha no Amazonas pode mexer com as frutas do Brasil
Uma armadilha em Rio Preto da Eva (AM) captou insetos suspeitos de mosca-da-carambola. O alerta do Mapa ativa medidas preventivas e reacende o debate sobre quarentena, transporte de frutas e impacto no bolso, no preço ao consumidor.

Uma armadilha de monitoramento em Rio Preto da Eva, na região metropolitana de Manaus (AM), foi suficiente para acender um alerta nacional. Em 2 de dezembro de 2025, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) comunicou a detecção de espécimes suspeitos da mosca-da-carambola, e informou que a amostra foi encaminhada ao Laboratório Federal de Defesa Agropecuária (LFDA-GO), em Goiânia, para confirmação.

O motivo é simples: com pragas desse tipo, o custo de “esperar para ver” costuma ser alto. Mesmo antes da confirmação laboratorial, o Mapa prevê medidas preventivas para reduzir o risco de dispersão, proteger pomares e evitar que um foco localizado se transforme em dor de cabeça para produtores, transportadores e consumidores em outras regiões.
A praga e por que ela preocupa
A mosca-da-carambola (Bactrocera carambolae) é uma mosca-das-frutas capaz de causar perdas diretas e indiretas. O dano direto ocorre dentro do fruto: a fêmea deposita ovos sob a casca e as larvas se alimentam da polpa, acelerando a deterioração e inviabilizando a comercialização. O dano indireto costuma ser ainda mais pesado: barreiras fitossanitárias e restrições comerciais para áreas consideradas de risco.
No Brasil, existe um subprograma oficial voltado a essa praga, com regras de vigilância, monitoramento e resposta rápida. O manual do Mapa descreve que a mosca-da-carambola é tratada como “praga quarentenária presente”, justamente por representar um risco elevado à fruticultura e ao comércio de frutos, exigindo ação coordenada entre governo, produtores e cadeias de transporte.
O “efeito quarentena” no transporte de frutas
Quando se fala em “efeito quarentena”, não é exagero: o objetivo é bloquear os caminhos pelos quais a praga poderia viajar. Hoje, a Área Sob Quarentena oficialmente definida para a mosca-da-carambola abrange a totalidade territorial do Amapá e de Roraima e inclui uma lista de municípios no Pará, com regras específicas e fiscalização contínua. Esse modelo ajuda a conter o avanço da praga e serve como referência para ações rápidas quando surge um alerta em novas localidades.

Para o dia a dia, isso pode se traduzir em mais inspeções em cargas, exigência de documentação e atenção redobrada a frutos hospedeiros. E, como a mosca-da-carambola tem uma lista ampla de hospedeiros, o tema não se restringe à carambola: ele encosta em frutas e cultivos muito presentes na mesa do brasileiro.
Entre os hospedeiros mais comuns citados em materiais técnicos e ações de vigilância, entram:
- carambola, manga e goiaba
- acerola e caju
- mamão e maracujá
- cítricos (como laranja e tangerina)
- tomate e pimentas em cenários de risco
O caso do Amazonas
O caso do Amazonas também mostra um ponto positivo: a vigilância funciona quando a rotina detecta cedo e aciona o protocolo. Além da análise em laboratório, as medidas previstas nas normas recentes do Mapa já podem ser iniciadas no território, o que reduz o tempo de resposta, fator decisivo em pragas que podem se espalhar por deslocamento de frutos e pessoas.
Para o público geral, a melhor contribuição é evitar “atalhos” que parecem inofensivos: trazer frutas na mala, enviar caixas de frutas sem procedência, transportar mudas de origem desconhecida.
Se a resposta for bem executada, o Brasil protege pomares, preserva mercados e reduz a chance de que um alerta em armadilha vire um problema nacional, do campo à feira.
Referência da notícia
Mapa detecta espécimes suspeitos de mosca-da-carambola no Amazonas. 2 de dezembro, 2025. MAPA.