NOAA declara condições de La Niña presentes no Pacífico; saiba o que esperar de fato
A NOAA declarou oficialmente condições de La Niña nesta quinta-feira (9). A Meteored alerta que é necessário cautela em reproduzir esta informação.

A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA) emitiu na manhã desta quinta-feira (9) um La Niña Advisory, um aviso oficial que indica que as condições típicas do fenômeno La Niña estão presentes no Pacífico tropical e devem persistir nos próximos meses.
No entanto, parte da comunidade científica discorda que as condições estejam realmente configuradas ou que irão se manter pelo período necessário para caracterizar o fenômeno. Entenda a seguir o que diz o boletim da NOAA, quais critérios são usados para identificar o fenômeno e por que é preciso cautela antes de reproduzir essa informação.
O que diz o aviso de La Niña da NOAA?
O aviso emitido hoje (9) pelo Centro de Previsão Climática da NOAA declarou oficialmente o status La Niña. De acordo com o texto:
A NOAA indica que anomalias negativas da temperatura da superfície do mar (TSM) se expandiram pelo Pacífico central e leste, com o índice Niño-3.4 atingindo -0,5°C na última semana.

O relatório também cita anomalias negativas subsuperficiais até 200 metros de profundidade, ventos de leste mais intensos e convecção reforçada sobre a Indonésia, sinais típicos da fase fria do ENSO. Ainda assim, a própria NOAA destaca que o evento atual deve permanecer fraco, com efeitos limitados no clima global.
Como a NOAA declara um evento de La Niña?
Os critérios do CPC-NOAA para a identificação de um evento de La Niña incluem:
- TSM na região Niño-3.4 deve ser pelo menos 0,5°C mais fria que a média climatológica;
- A anomalia de TSM de -0,5°C ou menor deve persistir ou ser projetada para persistir por vários períodos de 5 trimestres consecutivos sobrepostos (por exemplo: outubro-novembro-dezembro, novembro-dezembro-janeiro, dezembro-janeiro-fevereiro, janeiro-fevereiro-março, fevereiro-março-abril);
- Os ventos alísios do leste no Pacífico tropical devem estar mais intensos que o normal
Além disso, é necessário que exista acoplamento entre oceano e atmosfera, ou seja, uma resposta consistente dos padrões de vento e chuva ao resfriamento do Pacífico.
Porém, o sistema de alerta de eventos La Niña e El Niño é baseado não apenas na análise de dados de temperatura e pressão e no acoplamento entre oceano e atmosfera, mas também na modelagem e previsão climática - o que introduz muita incerteza. O fluxograma abaixo resume o processo utilizado pelo CPC-NOAA.

Este fluxograma nos diz que, se há condições de anomalia mensal de TSM abaixo de -0,5°C, a próxima pergunta a ser feita é se há perspectiva dessas anomalias persistirem nas próximas estações - e essa resposta vem da opinião dos meteorolgistas a respeito das previsões.
Caso a resposta seja sim, passa-se para a avaliação da atmosfera onde precisa ser verificado se existem indicativos do fortalecimento da circulação de Walker (como supressão da chuva no Pacífico central e mais chuva sobre a Indonésia), para caracterizar La Niña.
Um anúncio precoce? Cautela ainda é necessária
Apesar do aviso oficial, os especialistas da Meteored consideram que o atual cenário no Pacífico equatorial não reflete uma La Niña. Os pontos-chave para considerar o aviso da NOAA como precoce são:
- As anomalias de TSM abaixo de -0,5°C são absolutamente recentes, não há persistência sequer por 4 semanas consecutivas;
- A média da previsão (chamada de “ensemble”) dos modelos dinâmicos indica anomalias fracas, muito próximas do limiar de -0,5°C, com retorno para a neutralidade já a partir de dezembro;
- Os modelos estatísticos, por sua vez, praticamente nem alcançam o limiar necessário;
- Essa é a primeira vez desde março que um dos ensembles alcança limiares de La Niña; entre março e agosto tanto os modelos dinâmicos quanto estatísticos mantiveram as previsões dentro da neutralidade, o que reflete incerteza da previsão.

Em janeiro de 2025 a NOAA declarou a formação do evento La Niña mais tardio da história, mas precisou voltar atrás em abril, devido à falta de persistência do resfriamento.
Apesar do quadro atual ser diferente do ano passado, uma vez que temos o Dipolo do Índico favorecendo o resfriamento das águas na região do ENOS, a avaliação crítica das condições observadas no Oceano Pacífico e da evolução das previsões dos modelos mostra que é cedo afirmar presença de La Niña.
A Meteored acredita que vai haver um resfriamento do Oceano Pacífico, que até pode ter uma resposta atmosférica e afetar o clima no Brasil durante o verão, mas será uma condição de resfriamento dentro da neutralidade, sem persistência por 5 meses.
Referência da notícia
EL NIÑO/SOUTHERN OSCILLATION (ENSO) DIAGNOSTIC DISCUSSION, publicado em 9 de outubro de 2025.