Muito além da garota do tempo: o impacto das mulheres na meteorologia

Por muito tempo, a imagem feminina na meteorologia foi associada às apresentadoras da previsão do tempo na TV. No entanto, cientistas mulheres desempenharam papéis fundamentais na compreensão da atmosfera. Neste Dia Internacional das Meninas e Mulheres na Ciência, destacamos algumas dessas pioneiras.

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Da esquerda para a direita: Joanne Simpson, Maria Assunção Faus da Silva Dias, Celeste Saulo, June Bacon-Bercey, Ada Monzón, Kathryn Sullivan e Eugenia Kalnay, mulheres revolucionárias nas ciências atmosféricas. Créditos: reprodução.

Desde 2015, o dia 11 de fevereiro é marcado como o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, uma iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU) para reconhecer e incentivar a participação feminina em todas as áreas científicas. Apesar dos avanços, as mulheres ainda são minoria em diversas áreas do conhecimento, enfrentando barreiras históricas e estruturais.

Mesmo assim, muitas mulheres entraram para a história com grandes contribuições científicas. Por exemplo, a essa altura você já deve saber que a mãe da programação foi Ada Lovelace e que o primeiro computador eletrônico de uso geral foi construído sob a liderança de Grace Hopper. Agora, será que você conhece algumas das cientistas que revolucionaram a meteorologia?

Joanne Simpson: pioneira na pesquisa de nuvens e chuvas tropicais

Joanne Simpson foi a primeira mulher a obter um doutorado em meteorologia. Sua pesquisa sobre "hot towers" (torres quentes) revolucionou a compreensão da dinâmica das tempestades tropicais e do ciclo da água na atmosfera.

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Joanne Simpson em duas fases de sua carreira. Créditos: reprodução.

Ela também foi uma das principais cientistas por trás das missões de satélite de medição de precipitação da NASA, ajudando a aprimorar as previsões de chuvas e tempestades.

June Bacon-Bercey: a primeira meteorologista afro-americana na TV

June Bacon-Bercey foi a primeira mulher negra a se tornar meteorologista nos Estados Unidos e a primeira a apresentar a previsão do tempo na televisão americana.

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June Bacon-Bercey, incentivadora da diversidade na ciência, afinal, representatividade importa. Créditos: reprodução.

Mais do que uma comunicadora, ela teve uma carreira influente na pesquisa e na formação de novos meteorologistas, sendo uma grande incentivadora da diversidade na ciência.

Maria Assunção Faus da Silva Dias: pioneira da meteorologia no Brasil

Considerada uma das pioneiras da meteorologia no Brasil, atualmente é professora emérita do Departamento de Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (USP), o qual foi uma das fundadoras - um dos melhores programas de ciências atmosféricas no país. Em 2017 foi escolhida como a Alumna Destaque do Departamento de Ciências Atmosféricas da Universidade do Colorado (CSU), programa onde ela foi a primeira mulher a obter o título de doutorado.

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Maria Assunção, recebendo o prêmio que atualmente leva seu nome (esquerda) e durante seu doutorado (direita). Créditos: reprodução.

Desde 2023 este prêmio leva seu nome, e o Silva Dias Award é concedido anualmente a um doutorando com pesquisa de destaque, em reconhecimento às contribuições de Maria à ciência atmosférica. Sua pesquisa é amplamente reconhecida (mais de 14 mil citações) no Brasil e internacionalmente, com ênfase em estudos sobre chuvas em sistemas tropicais e interação entre biosfera e atmosfera, particularmente na Amazônia.

Kathryn Sullivan: do espaço para a previsão do tempo

Kathryn Sullivan foi astronauta da NASA, a agência espacial estadunidense, e a primeira mulher americana a caminhar no espaço.

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Kathryn Sullivan iniciou sua carreira como astronauta e, posteriormente, atuou na meteorologia. Créditos: reprodução.

Como administradora da NOAA (Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA), ela impulsionou a melhoria dos satélites meteorológicos e avançou no conceito de uma "nação preparada para o clima".

Eugenia Kalnay: líder de desenvolvimento da primeira reanálise

Foi uma meteorologista argentina e uma das cientistas mais influentes na área de previsão numérica do tempo. Como diretora do Centro de Modelagem Ambiental da NOAA, liderou o desenvolvimento de um dos primeiros sistemas operacionais de previsão por conjuntos, uma abordagem que melhora a precisão dos modelos meteorológicos ao quantificar incertezas. Também foi autora principal do renomado projeto de reanálise NCEP/NCAR de 40 anos, que forneceu uma base de dados histórica consistente para estudos atmosféricos - para quem é da área, ela é a famosa “Kalnay et al., 1996”.

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Eugenia Kalnay, líder de desenvolvimento da primeira reanálise de dados meteorológicos. Kalnay faleceu recentemente e deixa um imenso legado. Créditos: reprodução.

Além disso, sua pesquisa inovadora aplicou métodos de assimilação de dados para aprimorar a previsão do tempo e até mesmo explorar fenômenos climáticos em Marte. Ao longo da carreira, Kalnay buscou integrar meteorologia e questões sociais, contribuindo para o modelo HANDY, que analisa a relação entre meio ambiente, economia e dinâmica populacional.

Celeste Saulo: a primeira mulher a assumir o cargo de de Secretária-Geral da OMM

Primeira mulher a assumir o cargo de Secretária-Geral da Organização Meteorológica Mundial (OMM), Celeste Saulo é uma referência na meteorologia sul-americana. Antes de sua nomeação em 2024, dirigiu o Serviço Meteorológico Nacional da Argentina por uma década, modernizando a instituição e fortalecendo sua atuação na previsão do tempo e no monitoramento climático.

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Celeste Saulo, primeira mulher a assumir o cargo de Secretária-Geral da Organização Meteorológica Mundial. Créditos: reprodução.

Professora titular na Universidade de Buenos Aires e cientista pesquisadora, sua trajetória inclui contribuições significativas para a previsão numérica do tempo, assimilação de dados e estudo de sistemas de precipitação intensa na América do Sul. Além disso, tem se dedicado a integrar meteorologia e sociedade, promovendo a capacitação de novos cientistas e o fortalecimento da cooperação internacional para enfrentar os desafios das mudanças climáticas.

Ada Monzón: uma voz essencial para Porto Rico

Ada Monzón é uma das meteorologistas mais respeitadas de Porto Rico. Sua atuação durante o furacão Maria foi fundamental para conscientizar a população sobre a gravidade do desastre, salvando vidas.

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Ada Mozón, um grande nome para Porto Rico, salvou diversas vidas através de comunicação assertiva sobre o furacão Maria. Créditos: reprodução.

Além disso, ela é fundadora do EcoExploratorio, um museu de ciências em Porto Rico, e continua a ser uma mentora para jovens cientistas.

O futuro das mulheres na meteorologia

Apesar dos avanços, as mulheres ainda enfrentam desafios na ciência, desde barreiras institucionais até disparidades de gênero em cargos de liderança. No entanto, histórias como as dessas cientistas mostram que a presença feminina na meteorologia é indispensável. O reconhecimento e o incentivo às novas gerações de cientistas mulheres são fundamentais para um futuro mais igualitário e inovador na área.

As mudanças climáticas representam um desafio crescente para as mulheres em todo o mundo. Segundo um relatório da ONU Mulheres, até 2050, cerca de 158 milhões de mulheres e meninas podem ser empurradas para a pobreza, e 236 milhões enfrentarão mais insegurança alimentar devido aos impactos ambientais. O relatório destaca a necessidade de uma justiça climática feminista, que garanta a inclusão das mulheres na formulação de políticas ambientais e assegure a redistribuição de recursos de forma equitativa.

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Menina pinta um cartaz escrito "Mudança climática não é a mudança que estamos procurando", como uma referência à eterna luta das mulheres por direitos iguais. Créditos: reprodução.

O feminismo pode ser uma ferramenta poderosa para combater as mudanças climáticas. Integrar os direitos das mulheres às políticas ambientais não é apenas uma questão de justiça social, mas também uma estratégia essencial para uma resposta climática mais eficaz e sustentável. A luta contra as mudanças climáticas precisa considerar as desigualdades de gênero para ser verdadeiramente transformadora, garantindo que todas as pessoas tenham condições de prosperar em um planeta saudável.