Mudanças climáticas e a flora do Pampa: quais espécies sobreviverão?

As mudanças climáticas estão redesenhando a biodiversidade do Pampa. Um estudo da UFRGS revela que algumas espécies podem desaparecer, enquanto outras encontram novos territórios. Entenda como esse fenômeno impacta a flora e a necessidade de conservação.

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A petúnia branca (Petunia axillaris) pode migrar para as áreas costeiras da Argentina e do Uruguai como resposta às mudanças climáticas.

Nos próximos anos, o bioma Pampa poderá passar por transformações significativas devido às mudanças climáticas. Composto principalmente por gramíneas e herbáceas, esse ecossistema já enfrenta desafios relacionados à degradação ambiental e à ação humana.

Agora, cientistas alertam que o aumento das temperaturas pode impactar a distribuição de diversas espécies da flora local, fazendo com que algumas desapareçam de seus habitats tradicionais e outras encontrem novos refúgios.

Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) analisou o futuro de oito espécies vegetais do Pampa, considerando cenários de aquecimento global projetados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Os resultados revelam que, enquanto algumas plantas sofrerão redução de área, outras poderão expandir sua ocupação, deslocando-se para diferentes regiões do Brasil e países vizinhos, como Argentina e Uruguai.

Espécies que podem desaparecer do Pampa

Muitas das espécies analisadas pelo estudo apresentaram uma tendência preocupante: a redução drástica de seu habitat natural. Entre elas, destacam-se a Petunia inflata e a Calibrachoa heterophylla, que atualmente são encontradas no interior do bioma e na planície costeira do Rio Grande do Sul. Com o aumento das temperaturas, essas plantas podem perder grande parte de suas áreas de ocorrência, tornando-se cada vez mais raras.

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Regiões onde atualmente ocorrem as espécies Petunia integrifolia subsp. integrifolia e Petunia inflata (Fonte: Isadora Quintana/Divulgação).

Outro caso alarmante é o da Petunia axillaris, conhecida como petúnia branca. Essa espécie, que hoje pode ser vista em diferentes regiões do sul do Brasil, corre o risco de praticamente desaparecer do território nacional. As previsões indicam que ela poderá encontrar refúgio apenas no litoral da Argentina e do Uruguai, onde as condições climáticas ainda seriam favoráveis ao seu desenvolvimento.

Plantas que podem encontrar novos territórios

Apesar do cenário desafiador, algumas espécies parecem ter maior capacidade de adaptação às mudanças climáticas. A orquídea-da-praia (Epidendrum fulgens) e a Turnera sidoides subsp. carnea estão entre as poucas plantas analisadas que podem expandir sua área de ocorrência nas próximas décadas. Enquanto a orquídea pode migrar para o centro do Rio Grande do Sul, a segunda espécie tem potencial para se espalhar pelo território uruguaio, demonstrando resistência às novas condições ambientais.

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A orquídea-da-praia (Epidendrum fulgens) pode expandir sua área de ocorrência, migrando para o centro do Rio Grande do Sul devido às mudanças climáticas. Fonte: OrchidRoots.

Esse fenômeno de migração de plantas ocorre porque as condições climáticas em determinadas regiões se tornam inadequadas para algumas espécies, ao mesmo tempo em que outras encontram espaços onde podem crescer e se desenvolver melhor. No entanto, mesmo que uma planta possa teoricamente se deslocar para uma nova área, nem sempre esse ambiente estará disponível – ele pode estar ocupado por cidades, plantações ou outros obstáculos que impedem sua sobrevivência.

O que a história nos ensina sobre a biodiversidade do Pampa?

A pesquisa da UFRGS não se limitou apenas a projeções futuras. Os cientistas também analisaram como essas espécies se comportaram em diferentes períodos climáticos do passado, desde a última era glacial até os dias atuais. O estudo mostrou que, ao longo da história, cada planta respondeu de maneira única às mudanças do ambiente, demonstrando que o clima não é o único fator que determina a biodiversidade do Pampa.

Fatores como o tipo de solo, a presença de polinizadores e até mesmo a interferência humana desempenham um papel crucial na preservação das espécies.

Isso significa que, embora as mudanças climáticas representem um grande desafio para a flora do Pampa, estratégias de conservação eficazes podem ajudar a minimizar os impactos e garantir a sobrevivência dessas plantas.

Compreender o passado e projetar o futuro da biodiversidade do Pampa é essencial para proteger esse ecossistema único. O estudo destaca a importância da conservação e da criação de áreas protegidas, garantindo que as espécies tenham espaço para se adaptar e prosperar diante das mudanças que estão por vir.

Referência da notícia

Espécies da flora do Pampa podem migrar para novas áreas devido às mudanças climáticas. 6 de fevereiro, 2025. Fernandes de Souza, C, Jornal da Universidade - UFRGS.