Mudanças climáticas custarão 500 mil reais por tonelada de carbono

Cientistas da Universidade de Chicago estimaram o custo final da emissão de carbono para a humanidade e as gerações futuras, que ficou próximo de 100 mil dólares por tonelada - valor equivalente a mais de 500 mil reais.

Mudanças climáticas custarão mais de 500 mil reais por tonelada de carbono
Estudo da Universidade de Chicago indica que cada tonelada de carbono emitida pode custar 500 mil reais à humanidade no futuro.

O impacto das mudanças climáticas na economia é um assunto que preocupa fortemente a indústria. Por isso, economistas tentam cada vez mais estimar o custo social da liberação de dióxido de carbono na atmosfera. O problema é que pouquíssimas projeções hoje ultrapassam os cem anos, quem dirá os milhares de anos necessários para que as mudanças climáticas diminuam.

Por isso, geocientistas da Universidade de Chicago buscaram estudar e obter uma visão mais ampla sobre este assunto. Seu estudo, publicado na Climatic Change, indica custos médios de 100 mil dólares por tonelada de dióxido de carbono, o equivalente a mais de 500 mil reais na data de publicação desta matéria.

Este resultado indica que as gerações futuras precisarão pagar uma conta mil vezes maior do que pensávamos pelas nossas emissões de poluentes. Já que a economia e o valor da moeda tendem a mudar imprevisivelmente ao longo do tempo, esse valor não é preciso, mas é uma tentativa de colocar o enorme impacto das emissões de carbono em unidades mais fáceis de serem compreendidas.

Hoje, se quiséssemos limpar a atmosfera, o custo hipotético já seria de quase 900 trilhões de reais, o equivalente a cerca de 500 anos acumulados do PIB brasileiro atual. Este valor aumenta 20 trilhões de reais todo ano, dez vezes mais do que o PIB. Por isso, é necessário entender os impactos econômicos que nossas ações causarão para as próximas gerações.

"O que queríamos obter com este cálculo é uma noção melhor do fardo que estamos colocando nas gerações futuras" disse o cientista David Archer ao UChicago News.

Estudos que abordam esse tipo de assunto geralmente utilizam um princípio denominado “taxa de desconto” - Onde os prejuízos futuros são descontados para calcular seus valores atuais e, portanto, os custos que se acumulam mais do que alguns séculos no futuro tornam-se insignificantes no presente.

Por isso, Archer e os demais cientistas sentiram que os cálculos atuais deixavam de fora uma dimensão crucial do problema. Há cada vez mais indícios de que os efeitos causados pelas emissões de hoje irão durar centenas de milhares de anos, e este tempo precisa ser contabilizado de maneira mais efetiva. Alguns dos fatores que mais contribuem para estas emissões hoje são a queima de combustíveis fósseis (como carvão, gás natural e petróleo) e a mudança na utilização de terra (como desmatamento e incêndios florestais).

Os impactos destas emissões ainda são incertos. Especialistas concordam que até o ano 2100, por exemplo, o nível do mar deve subir pelo menos 30 centímetros em todo o mundo - Só que as camadas de gelo levam muito mais tempo do que isso para se estabilizarem. No final das contas, o impacto do que fazemos hoje só será totalmente sentido daqui a milhares de anos, e o nível do mar pode acabar subindo mais de 50 metros.

Levando estas mudanças de longo prazo em consideração e eliminando a taxa de desconto mencionada anteriormente, o custo do carbono que queimamos hoje explode, variando de 10 mil até 750 mil dólares por tonelada de carbono. O valor médio entre todos os cenários considerados foi de 100 mil dólares.

De acordo com Archer, “Os custos finais acabam se tornando milhares de vezes mais altos porque a mudança climática durará milhares de anos mais do que nossa geração”.

Claro, é impossível prever com segurança o futuro da humanidade a longo prazo. Nos últimos anos, por exemplo, fomos capazes de corrigir e nos recuperar de diversos problemas ambientais. Um deles é a camada de ozônio, que tem se recuperado continuamente depois que paramos de usar CFCs na década de 1990.

A sujeira que não se resolve quando paramos de poluir, é isso que me assusta”, disse Archer ao portal UChicago. "Assim como o mercúrio continuará envenenando nosso sushi pelos próximos 10 mil anos, as mudanças climáticas também vão continuar nos acompanhando por muito mais tempo do que qualquer um de nós possa imaginar."