Hemisfério Sul poderá ter 30% menos chuva até o fim do século

Um novo estudo inferiu que partes do Hemisfério Sul poderão sofrer uma redução de 30% no total anual de chuvas até o final desse século! Os pesquisadores descobriram isso analisando um período da Terra que ocorreu há 3 milhões de anos!

Chuvas Hemisfério Sul
As alterações climáticas ocorridas durante o Plioceno Médio nos dão pistas sobre as possíveis alterações futuras no padrão de chuvas até o final do século XXI.

Um novo estudo publicado na Nature Scientific Reports, liderado por pesquisadores brasileiros do Instituto de Oceanografia (IO) da Universidade de São Paulo (USP), sugere que regiões tropicais e subtropicais do Hemisfério Sul, incluindo o Brasil, poderão ter uma redução de 30% do total anual de chuvas até o final desse século.

Nesse trabalho os pesquisadores investigaram as mudanças nos padrões de chuva de todo o planeta no período do Plioceno Médio, que ocorreu há cerca de 3 milhões de anos. Mas como um período tão distante pode nos dizer como será o futuro?

O Plioceno Médio foi um período da Terra onde a temperatura global era 2 a 3 °C mais quente que o período pré-industrial (por volta de 1850). Este aquecimento é equivalente ao que é esperado até o final deste século. Em 2019 o planeta já registrou uma temperatura média de 1.1°C acima dos níveis pré-industriais.

A professora do IO-USP, Ilana Wainer, segunda autora desse estudo, disse em entrevista à Agência FAPESP que o Plioceno Médio é o período mais recente da história da Terra cujo aquecimento global é semelhante ao previsto para o final do século. Além disso, as concentrações atmosféricas de gás carbônico (CO2) eram semelhantes às de hoje, de aproximadamente 400 partes por milhão (ppm).

Nesse período, a camada de gelo da Groelândia tinha 50 a 70% menos massa e o oeste da Antártica não tinha gelo. Dessa forma, o Plioceno Médio pode ser considerado um período climático análogo aos cenários futuros projetados.

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Pelo raciocínio da termodinâmica, uma atmosfera mais aquecida implicaria num aumento da média global de chuvas, porém, nesse estudo os pesquisadores mostraram que as alterações na dinâmica da atmosfera acabam gerando um padrão mais diversificado nas alterações dos regimes de chuvas.

Durante o Plioceno Médio as Temperaturas da Superfície do Mar (TSM) nas latitudes mais altas dos Hemisférios Norte e Sul eram 9 e 4°C mais quentes, respectivamente, comparado ao período pré-industrial. As simulações mostraram que essa taxa de aquecimento mais alta no Hemisfério Norte criou um gradiente de temperatura inter-hemisférico que aumentou o fluxo de energia que cruza o equador em direção ao Hemisfério Sul em até 48%.

Pelas simulações, este fluxo de energia intensificado é responsável por uma reorganização das células de circulação geral da atmosfera que acaba resultando num deslocamento para norte da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) e um enfraquecimento e deslocamento para sul das zonas de convergência subtropicais do Hemisfério Sul, incluindo a Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), principal sistema meteorológico responsável que rege as chuvas no Brasil durante o verão.

Essas mudanças nas principais zonas de convergência durante o Plioceno Médio resultaram em menores acumulados de chuvas e condições mais secas nos trópicos e extratrópicos do Hemisfério Sul. Devido as semelhanças desse período com os cenários futuros que as principais projeções climáticas indicam, se as mudanças climáticas continuarem num ritmo acelerado, podemos ter grande parte do Brasil com condições mais secas, impactando a disponibilidade hídrica do país.