Criado um mapa que mostra onde estariam as espécies que a ciência ainda não descobriu

Pesquisadores da Universidade de Yale publicaram um mapa mostrando os locais onde seria possível encontrar novos animais ou plantas no mundo. Veja mais conosco!

Biodiversidade animal
A ciência conhece nada menos que 1,5 milhão de espécies, mas isso representa apenas 10% de todas aquelas que coexistem conosco. Existem milhares que ainda não foram identificadas.

Num mundo aparentemente explorado e mapeado, ainda temos um vasto território para descobrir: o reino das espécies não identificadas.

À medida que os cientistas exploram os cantos mais remotos do nosso planeta, eles se dão conta de que a biodiversidade é muito mais rica e complexa do que imaginávamos.

Pesquisadores da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, chamaram a atenção há quase dez anos com a publicação doMapa da Vida. Esta base de dados coleta informações sobre as espécies que habitam o nosso planeta e a sua distribuição, mas quiseram ir mais longe, com uma nova ferramenta que fornece dados interessantes.

Peças perdidas no mapa da biodiversidade

A ciência catalogou e classificou inúmeras espécies, desde os majestosos elefantes africanos até aos minúsculos insetos dos nossos jardins. No entanto, o processo de descoberta está longe de se completar.

Numa nova publicação e no âmbito do mesmo projeto, a equipe revelou o “Mapa da vida a descobrir”. Esta nova versão procura ajudar a descobrir e preservar a biodiversidade em todo o mundo.

No ritmo atual das alterações ambientais, não há dúvida de que muitas espécies serão extintas antes de sabermos da sua existência e termos a oportunidade de considerar o seu destino - Walter Jetz, professor de ecologia e biologia evolutiva na Universidade de Yale.

Em um comunicado, Mario Moura, pesquisador associado no laboratório de Jetz, complementa explicando que “as espécies conhecidas são as ‘unidades de trabalho’ em muitas abordagens de conservação, pelo que as espécies desconhecidas são normalmente deixadas de fora do planejamento, da gestão da conservação e da tomada de decisões”.

Neste sentido, reforça a ideia ao acrescentar que “encontrar as peças que faltam no quebra-cabeça da biodiversidade da Terra é crucial para melhorar a conservação da biodiversidade em todo o mundo”.

Modelo de 'previsão' de espécies

Na ciência, obter evidências é fundamental. E embora a palavra “previsão” possa parecer inadequada, é possível se for apoiada por bons modelos de análise de dados.

Vertebrados terrestres
Para este estudo, foram obtidas informações de até 32 mil vertebrados terrestres conhecidos, incluindo o local onde costumam viver, a distribuição geográfica em que podem ser encontrados, as datas de descoberta e algumas de suas características biológicas.

Como explicam os pesquisadores no artigo publicado na revista Nature Ecology & Evolution, “usamos informação detalhada sobre diferentes tipos de vertebrados terrestres e como e quando foram descobertos. Consideramos fatores biológicos, ambientais e sociais que influenciam a probabilidade de descoberta de novas espécies".

Graças a esta metodologia, conseguiram obter um modelo para prever onde e em que grupos de animais é mais provável que novas espécies sejam descobertas no futuro.

A este respeito, o professor Jetz salienta que se os recursos para identificar e categorizar espécies forem distribuídos de forma mais equitativa entre diferentes grupos de organismos, o processo de descoberta de novas espécies pode ser acelerado e a probabilidade de algumas serem extintas sem nunca serem conhecidas pela ciência pode ser reduzida.

Os “pontos quentes”

Ao olhar para o mapa de espécies ainda não descobertas, determinados locais se destacam como autênticos tesouros de biodiversidade.

Mesmo para quem não é especialista, é fácil aventurar-se a mencionar locais como a Amazônia ou as selvas do Sudeste Asiático, e não estariam errados. No topo da lista estão países como Brasil, Indonésia, Madagascar e Colômbia.

Espécies não identificadas de anfíbios e répteis têm maior probabilidade de ocorrer nas regiões neotropicais e nas florestas indo-malaias.

Conforme explicado na publicação, é nestes locais que se encontram as maiores oportunidades de identificação de novas espécies em geral, com um quarto de todas as descobertas potenciais.

Concentrar esforços para conservar a biodiversidade

Este novo mapa fornece uma excelente ferramenta que, por sua vez, representa um desafio global.

Nas palavras doprofessor Jetz “esta informação ajudará os governos e as instituições científicas a decidir onde concentrar seus esforços de documentação e conservação da biodiversidade”.

acordos pela biodiversidade
Pesquisas como essas deixam clara a importância de diferentes nações fortalecerem pactos ou acordos globais que busquem o compromisso de todos para impedir a perda de biodiversidade.

À medida que avançamos para o futuro, a exploração biológica continuará a desafiar as nossas percepções e a revelar maravilhas até então desconhecidas.

A combinação de paixão pela natureza, tecnologia inovadora e um compromisso global com a conservação nos aproximará da conclusão do mapa das espécies desconhecidas, garantindo um legado de biodiversidade para as gerações futuras.

Referência da notícia:
Moura M.R., Jetz W., Shortfalls and opportunities in terrestrial vertebrate species discovery. Nature ecology & evolution (2023).