Ondas de calor podem causar mortes no Brasil: entenda qual o limite que um ser humano pode aguentar

Quando as condições atmosféricas atingem níveis que impedem a evaporação do suor, o corpo não consegue se resfriar e as altas temperaturas podem levar a insolação, desidratação, choque térmico e até mesmo à morte.

Mulher sofrendo com os efeitos de uma onda de calor.
Quando as condições atmosféricas atingem níveis que impedem a evaporação do suor, o corpo não consegue se resfriar e o calor pode causar problemas de saúde e até mesmo a morte.

A sensação térmica vai além da temperatura medida pelos termômetros. Ela considera a umidade relativa do ar , que afeta diretamente como o corpo percebe e responde ao calor; e também a velocidade dos ventos, que altera a maneira como nosso suor evapora, dissipando as altas temperaturas do nosso corpo. Isso acontece porque a maneira como percebemos o calor depende da evaporação do nosso suor.

A principal função do suor é regular a temperatura corporal por meio do resfriamento evaporativo. Quando a temperatura do corpo aumenta, glândulas sudoríparas liberam suor, que evapora e remove calor da pele. O resultado é um resfriamento do corpo.

O problema surge quando as condições atmosféricas atingem níveis que impedem a evaporação do suor, nosso principal mecanismo de resfriamento. A partir daí, o corpo não consegue se resfriar e as altas temperaturas podem levar a grandes problemas de saúde e até mesmo à morte.

Os níveis de calor e umidade onde o corpo humano falha

Pesquisas indicam que o limite teórico para a sobrevivência humana ocorre com uma temperatura de bulbo úmido de 35°C. Esse parâmetro é similar à sensação térmica e também combina temperatura e umidade para representar a real dificuldade do corpo em dissipar calor.

Termômetros de bulbo úmido ou psicrômetros.
Termômetros de bulbo úmido, com local para armazenamento de água, que são utilizados para medir a temperatura de bulbo úmido. (Imagens: Cambridge Bay Weather / Crossmr)

Acima desse limite, mesmo pessoas jovens e saudáveis podem sofrer insolação, falência de órgãos e até morte em poucas horas. Mas estudos recentes sugerem que o corpo humano pode entrar em colapso antes mesmo da temperatura de bulbo úmido atingir 35 °C.

Embora essa condição raramente tenha sido registrada por longos períodos, o valor crítico já foi atingido anteriormente no Sul da Ásia e no Golfo Pérsico.

Testes com voluntários indicam que, em ambientes úmidos, a regulação térmica começa a falhar muito antes, quando a temperatura de bulbo úmido atinge cerca de 31°C - o que equivale a uma temperatura do ar de 31°C com 100% de umidade relativa, ou 38°C com 60% de umidade.

Homem sofrendo com os efeitos de uma onda de calor.
Quando a temperatura corporal sobe rapidamente, aumentam os riscos de insolação e exaustão térmica. A desidratação se intensifica e, em casos extremos, pode ocorrer um choque térmico.

Nessas condições, a dissipação de calor se torna ineficaz, a temperatura corporal sobe rapidamente e aumentam os riscos de insolação e exaustão térmica. Se o corpo não consegue se resfriar, o coração trabalha mais para manter a circulação, enquanto a desidratação se intensifica.

Em casos extremos, pode ocorrer um Choque Térmico, que exige resfriamento imediato e atendimento médico urgente para que o óbito não ocorra.

Em 2022, mais de 61 mil pessoas morreram na Europa devido à condições similares, que ocorrem durante ondas de calor e afetam especialmente idosos, crianças e trabalhadores expostos ao sol. Em julho de 2023, a cidade iraniana de Asaluyeh registrou uma temperatura de bulbo úmido de 33,7°C e sensação térmica de 66,7°C, níveis extremamente perigosos para a saúde.

Infelizmente, situações de calor extremo estão se tornando frequentes até mesmo no Brasil, onde diversos estados têm registrado temperaturas recordes nos últimos meses, com vítimas por vezes fatais.

Com o avanço das mudanças climáticas, eventos desse tipo podem se tornar mais frequentes e intensos. Modelos climáticos sugerem que, muito em breve, algumas regiões do planeta poderão enfrentar temperaturas de bulbo úmido superiores a 35°C de maneira regular, tornando-se virtualmente inabitáveis para seres humanos.