Unidades de conservação brasileiras completam 25 anos com mais de 3 mil áreas ativas
O Brasil comemora os 25 anos do Sistema Nacional de Unidades de Conservação, que protege 260 milhões de hectares e encara novos desafios pela frente.

Há 25 anos, o Brasil deu um passo decisivo rumo à preservação ambiental com a criação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC). Sancionada em junho de 2000, a lei que institui o sistema é considerada um marco legal que organizou e fortaleceu a gestão das áreas protegidas no país.
Com 12 categorias de unidades distribuídas entre proteção integral e uso sustentável, o SNUC abrange atualmente mais de 260 milhões de hectares.
Isso representa 18,6% do território continental brasileiro e 26,3% da área marinha. Mas, apesar dos avanços, o país ainda precisa superar obstáculos importantes para alcançar os objetivos ambientais assumidos internacionalmente.
A transformação na proteção da biodiversidade
Antes da implementação da lei, o Brasil contava com apenas algumas unidades federais dedicadas à conservação da natureza. Segundo a engenheira agrônoma Maria Tereza Pádua, que participou da elaboração do texto, a realidade era desoladora. “Quando comecei, o Brasil tinha quatro ou cinco unidades federais. Hoje temos um sistema completo”, lembrou.
O projeto de lei, iniciado ainda na década de 1980, levou quatro anos para ser redigido e mais oito para ser aprovado no Congresso. O esforço valeu a pena: o número de áreas protegidas saltou de 207 para mais de 3 mil unidades, hoje administradas por governos federais, estaduais, municipais e até mesmo por iniciativas privadas, como as Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs).
Essas áreas privadas, embora menores em extensão, são estratégicas para proteger ecossistemas frágeis e pouco representados nas grandes unidades públicas.
Conectividade ecológica: o novo foco da conservação
Apesar dos avanços, especialistas apontam a necessidade de ampliar a conectividade entre as áreas protegidas. Sem essa ligação, muitas unidades funcionam como ilhas isoladas, dificultando o fluxo genético entre espécies e comprometendo sua resistência a doenças e mudanças ambientais.
Para resolver esse problema, o governo federal tem investido na Rede Nacional de Trilhas e Conectividade, que busca integrar as áreas por meio de corredores florestais. Segundo Pedro Menezes, diretor de Áreas Protegidas do Ministério do Meio Ambiente, a proposta também inclui sinalizações com as famosas pegadas amarelas e pretas, criando infraestrutura de lazer e educação ambiental.
Além disso, estão em andamento chamadas públicas para apoiar estados e municípios na criação e ampliação de novas unidades. A meta é cumprir o compromisso internacional de proteger 30% do território nacional, algo que ainda não foi alcançado.
O futuro das unidades: financiamento, governança e engajamento
Para Virgílio Viana, superintendente da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), o fortalecimento do sistema também depende da atuação dos estados. Ele cita o exemplo do Amazonas, onde o Sistema Estadual de Unidades de Conservação (Seuc) foi criado para corrigir lacunas deixadas pela legislação federal.
Além disso, o especialista defende a destinação urgente de terras públicas não utilizadas, que continuam vulneráveis à grilagem. “Precisamos tirar essas áreas do mercado ilegal o quanto antes”, alerta.
A engenheira Maria Tereza concorda. Para ela, as unidades de conservação funcionam como um banco genético essencial para o desenvolvimento sustentável. “Não é possível desenvolver um país sem preservar seu patrimônio natural”, afirma.
Um Dia no Parque: quando a população encontra a natureza
Para celebrar os 25 anos do SNUC, a Rede Pró-UC promove no domingo, 20 de julho, o evento Um Dia no Parque, com atividades em mais de 450 unidades pelo país. A ideia é aproximar as pessoas das áreas protegidas, oferecendo experiências educativas, culturais e de lazer em contato direto com a natureza.
A diretora da Rede, Angela Kuczach, ressalta a importância da participação popular: “A gente só defende o que conhece”. A expectativa é ultrapassar a marca dos 135 mil visitantes da edição anterior.
Já Renata Mendes, do Instituto Semeia, destaca o impacto econômico da visitação sustentável. De acordo com ela, o Brasil recebe hoje cerca de 16 milhões de visitantes anuais nas UCs, mas há potencial para chegar a 56 milhões, com um impacto de até R$ 44 bilhões por ano.
Além do retorno financeiro, os ganhos sociais também são expressivos. “Estudos mostram que o contato com a natureza reduz o estresse e melhora a saúde mental. Além disso, fortalece o vínculo com a preservação ambiental”, completa.
Referências da notícia
Agência Brasil. Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza faz 25 anos. 18 de julho, 2025.