UFSC desenvolve técnica de cultivo de ouriço-do-mar e abre caminho para exportações sustentáveis

Pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina desenvolveram uma técnica inédita no Brasil para cultivar ouriço-do-mar em laboratório, promovendo inovação na aquicultura, geração de renda e preservação ambiental.

Larva do ouriço-do-mar Echinometra lucunter com 10 dias de larvicultura.
Larva do ouriço-do-mar Echinometra lucunter com 10 dias de larvicultura. Foto: Divulgação LMM/UFSC

Pela primeira vez no Brasil, cientistas conseguiram reproduzir o ciclo completo do ouriço-do-mar em laboratório com fins comerciais. A iniciativa, liderada pelo Laboratório de Moluscos Marinhos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), marca um avanço significativo na diversificação da aquicultura nacional e na construção de soluções sustentáveis para o setor.

O experimento resultou na produção de aproximadamente 1.300 juvenis da espécie Echinometra lucunter, cultivados em condições controladas. Essa espécie é bastante comum no litoral brasileiro e apresenta características ideais para o cultivo em cativeiro, como crescimento acelerado e alta taxa de reprodução. O projeto, segundo os pesquisadores, busca criar uma nova cadeia produtiva baseada na sustentabilidade e na valorização de recursos marinhos nativos.

De alternativa à pesca predatória a produto de valor gastronômico

O ouriço-do-mar é bastante apreciado na gastronomia, especialmente por suas gônadas, conhecidas como “uni” — um ingrediente de alto valor em restaurantes especializados no Brasil e no exterior. Atualmente, o consumo nacional depende quase exclusivamente da pesca extrativista, o que coloca pressão sobre os estoques naturais. Com o novo método, essa dependência pode ser reduzida de forma significativa.

A proposta da UFSC vai além do aspecto culinário. A mesma parte comestível do animal também desperta o interesse da indústria cosmética, farmacêutica e nutracêutica, por conter compostos bioativos com potencial terapêutico. Assim, o projeto abre portas para múltiplos mercados e fortalece a proposta de um cultivo multifuncional, aliado à preservação ambiental.

Juvenil de ouriço-do-mar com dois meses de cultivo
Juvenil de ouriço-do-mar com dois meses de cultivo. Foto: Divulgação/LMM/UFSC

De acordo com o coordenador da pesquisa, professor Cassio de Oliveira Ramos, o desenvolvimento da técnica representa um salto qualitativo para o país.

“Pela primeira vez no Brasil, estamos fechando todo o ciclo produtivo de uma espécie nativa de ouriço-do-mar com foco na aquicultura. Esse marco é um passo decisivo para a criação de uma nova cadeia produtiva na maricultura nacional, integrando ciência, economia azul e sustentabilidade”, destacou o pesquisador.

Inovação sustentável e impacto positivo nas comunidades costeiras

A metodologia utilizada envolve três fases distintas: larvicultura e assentamento; crescimento dos juvenis e adultos; e maturação gonadal. Na primeira etapa, os pesquisadores testaram diferentes condições de temperatura, salinidade e alimentação, sempre com foco no bem-estar animal e na qualidade da água.

Todo o processo foi realizado com tecnologia 100% nacional, fruto da experiência na criação de ostras e vieiras. Com base nesse conhecimento prévio, a equipe conseguiu adaptar os protocolos ao cultivo dos ouriços-do-mar e obteve resultados promissores, abrindo caminho para a produção em larga escala.

A próxima fase da pesquisa será conduzida pelo Laboratório de Camarões Marinhos da UFSC, em um esforço conjunto para consolidar a tecnologia e iniciar os testes com vistas à comercialização.

Para as comunidades costeiras, a novidade representa novas oportunidades de geração de renda, especialmente para pescadores e pequenos produtores que poderão integrar o cultivo do ouriço a sistemas multitróficos — aqueles que combinam diferentes espécies, como ostras, macroalgas e camarões, para promover o reaproveitamento de nutrientes e reduzir impactos ambientais.

Reprodutor de Echinometra lucunter utilizado nos protocolos experimentais
Reprodutor de Echinometra lucunter utilizado nos protocolos experimentais. Foto: Divulgação LMM/UFSC

O coordenador do projeto explicou também: “O cultivo de juvenis em laboratório é uma estratégia eficaz para reduzir a pressão sobre os estoques naturais. Além disso, abre novas frentes para geração de renda entre pescadores, maricultores e pequenos produtores”.

A proposta está alinhada com os princípios da Economia Azul e com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, buscando soluções que conciliem progresso econômico com responsabilidade ecológica.

Brasil entra no seleto grupo de países com tecnologia própria

Nações como Japão, Chile e Itália já exploram comercialmente o ouriço-do-mar há décadas. Com o avanço brasileiro, o país se posiciona entre os poucos com capacidade técnica para desenvolver o cultivo dessa espécie de forma sustentável.

Além de fornecer ao mercado interno um produto rastreável e de origem certificada, o Brasil poderá futuramente exportar o ouriço para mercados exigentes, ampliando a presença nacional no comércio global de frutos-do-mar.

A UFSC, por meio de seus laboratórios e equipe especializada, segue como protagonista em iniciativas inovadoras e sustentáveis, demonstrando que é possível combinar ciência, conservação marinha e geração de valor econômico.

Referências da notícia


SeTIC-UFSC. UFSC é pioneira no cultivo em laboratório de ouriço-do-mar para aquicultura no Brasil. 18 de agosto, 2025.