Pesquisa com peixe-zebra indica possível tratamento para surdez com regeneração celular controlada

Um estudo com peixes-zebra revelou dois genes capazes de controlar a regeneração de células auditivas, levantando possibilidades reais de recuperar a audição em seres humanos no futuro.

Regeneração celular de peixe-zebra pode transformar tratamentos auditivos no futuro.
Regeneração celular de peixe-zebra pode transformar tratamentos auditivos no futuro. Foto: Adobe Stock

Enquanto seres humanos convivem com as consequências da perda auditiva ao longo da vida, algumas espécies animais, como o peixe-zebra, possuem uma habilidade impressionante: regenerar células sensoriais responsáveis pela audição e equilíbrio. Essas estruturas, conhecidas como células ciliadas, localizam-se no ouvido interno e, uma vez danificadas em humanos, dificilmente se recuperam.

Por outro lado, os peixes-zebra não apenas regeneram essas células com facilidade, como também mantêm esse processo ativo durante toda a vida. A pesquisa liderada por cientistas do Stowers Institute for Medical Research revelou um novo passo importante na compreensão de como isso acontece, e o que isso pode representar para a medicina humana.

De acordo com a bióloga Tatjana Piotrowski, responsável pelo estudo, o desafio agora é entender como os mecanismos naturais presentes nesses animais podem ser aplicados a terapias regenerativas. “À medida que envelhecemos ou somos expostos a ruídos excessivos, perdemos parte da nossa audição e equilíbrio. Diferente dos peixes, não conseguimos substituir as células perdidas,” explicou a pesquisadora.

Genes que coordenam a regeneração celular

No centro da descoberta estão dois genes específicos da família cyclinD, que atuam diretamente no controle da divisão celular. Os pesquisadores identificaram que esses genes operam separadamente em dois grupos de células de suporte: células-tronco localizadas nas bordas dos órgãos sensoriais dos peixes e progenitoras, mais próximas do centro dessas estruturas.

Durante os experimentos, os cientistas utilizaram técnicas avançadas de sequenciamento genético e edição de DNA para desativar os genes em questão. O resultado foi revelador: ao inativar um deles, apenas uma das populações celulares interrompeu a divisão. Isso confirma que o controle regenerativo é segmentado e pode ser regulado de forma independente em diferentes tipos celulares.

Essa distinção é fundamental para avançar nas terapias celulares humanas, como destaca Piotrowski: “Ao entender como essas populações se comportam e respondem aos estímulos genéticos, podemos imaginar novas formas de promover a regeneração em tecidos que normalmente não se renovam.”

Além disso, a equipe demonstrou que, ao introduzir o gene específico das células-tronco em células progenitoras, a capacidade de divisão dessas últimas foi restaurada. Isso sugere que a manipulação genética direcionada pode reverter a inatividade celular, um aspecto promissor para o tratamento de doenças degenerativas.

Aplicações além da audição

A importância do estudo transcende a audição. Os genes cyclinD também estão presentes em tecidos humanos como o intestino e o sangue, sendo fundamentais para a manutenção de células nesses sistemas. Por isso, os resultados obtidos com os peixes-zebra podem se tornar referência em pesquisas mais amplas de regeneração celular.

O professor David Raible, da Universidade de Washington, elogiou o trabalho: “Este estudo revela um mecanismo elegante de como células-tronco são mantidas ao mesmo tempo que novas células sensoriais são geradas. Isso abre portas para investigar se processos semelhantes podem ser ativados em mamíferos.”

O peixe-zebra já é conhecido por sua capacidade de regenerar não só células auditivas, mas também partes do coração, retina e medula espinhal. Sua transparência durante o desenvolvimento e a facilidade de manipulação genética fazem dele um modelo ideal para investigações biomédicas.

Agora, com a identificação de como diferentes tipos de células contribuem para a regeneração sensorial, o caminho para ativar processos similares em humanos parece mais claro. Embora ainda distante da aplicação clínica, o avanço representa um passo significativo para enfrentar uma das condições mais comuns e incapacitantes do envelhecimento humano: a perda auditiva.

Referências da notícia

ScienceDaily. Can zebrafish help humans regrow hearing cells?. 14 de julho, 2025.