Mudanças climáticas: os danos econômicos são seis vezes maiores do que se pensava, segundo um relatório

Os danos associados às mudanças climáticas são cerca de seis vezes maiores do que se pensava anteriormente. Se esta tendência continuar, a riqueza global poderá ser consideravelmente limitada.

Porto Alegre, chuvas, estragos
Imagens do Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, completamente inundado após as chuvas excepcionais do início de maio.

Os danos econômicos causados pelas mudanças climáticas são seis vezes piores do que se pensava inicialmente, de acordo com um relatório recente. Com isto, estima-se que o aquecimento global reduzirá a riqueza a uma taxa equivalente às perdas financeiras de uma guerra permanente.

Os rendimentos médios cairão quase um quinto nos próximos 26 anos, em comparação com o que teriam sido sem a crise climática. O aumento das temperaturas, das chuvas e da frequência e intensidade de eventos climáticos extremos causarão 38 bilhões de dólares de danos anualmente até meados deste século.

Segundo tal relatório, divulgado pelo National Bureau of Economic Reserarch (NBER), um aumento de 1ºC na temperatura global provoca uma diminuição de 12% no produto interno bruto (PIB) global, uma estimativa muito superior à de análises anteriores. O planeta já aqueceu mais de 1ºC desde a era pré-industrial e muitos climatologistas preveem um aumento de 3ºC até ao final do século devido à queima de combustíveis fósseis, situação que, segundo o relatório, terá um enorme custo econômico.

Os autores, Adrien Bilal, da Universidade de Harvard, e Diego R. Känzig, da Northwestern University, descobriram que as perturbações da temperatura global estão muito mais correlacionadas com os fenômenos climáticos extremos do que as perturbações da temperatura a nível nacional. Além disso, um aumento de temperatura de 3ºC provocará “um declínio vertiginoso da produção, do capital e do consumo que ultrapassará os 50% em 2100”.

Danos tão graves quanto os causados por uma guerra permanente

Em um planeta com um aumento de 3ºC na temperatura global, as perdas econômicas seriam tão graves quanto os danos causados por uma guerra interna e permanente. Adrien Bilal disse ao site The Guardian que “ainda haverá algum crescimento econômico, mas no final do século as pessoas poderão ser 50% mais pobres do que seriam sem a mudança climática”.

Segundo o relatório, o poder aquisitivo, ou seja, quanto as pessoas podem comprar com o seu dinheiro, seria 37% maior do que o atual sem o aquecimento global dos últimos 50 anos. Esta riqueza perdida disparará se a crise climática se agravar, algo comparável ao tipo de drenagem econômica frequentemente observada em tempos de guerra. Hoje muitos custos já dispararam devido ao valor adicional na produção diante de um clima mais hostil.

Os autores esclarecem que a comparação com a guerra é apenas em termos de consumo e PIB, uma vez que todo o sofrimento e morte não está incluído nesta análise. “A comparação pode parecer chocante, mas em termos de PIB puro há uma analogia. É um pensamento preocupante”, afirmou Bilal.

O impacto será uniforme em todo o mundo

As diferenças em relação a outros estudos são muito marcantes neste caso. O relatório estima perdas econômicas muito maiores. O custo social do carbono, isto é, o custo em dólares dos danos causados por cada tonelada adicional de emissões de carbono, é calculado em 1.056 dólares por tonelada. Em comparação, a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) estima esse custo em cerca de 190 dólares por tonelada.

Os pesquisadores procuraram uma análise mais geral, em vez de olhar para estes custos país por país, resultando no custo econômico das mudanças climáticas quando analisados emà escala global, e não por país. Esta abordagem, disseram eles, capta a natureza interligada do impacto das ondas de calor, tempestades, inundações e outros impactos climáticos que prejudicam o rendimento das colheitas, reduzem a produtividade dos trabalhadores e reduzem o investimento de capital.

O relatório conclui que “o impacto econômico da crise climática será surpreendentemente uniforme em todo o mundo, embora com os países de renda mais baixa partindo de um ponto de riqueza mais baixo. Isto deveria levar países ricos como os Estados Unidos a tomar medidas para reduzir as emissões que provocam o aquecimento do planeta, em seu próprio interesse econômico”. Será um fenômeno de evolução lenta, embora os impactos sejam muito perceptíveis quando chegarem.

Referência da notícia:

NBER. "The Macroeconomic Impact of Climate Change: Global vs. Local Temperature". 2024.