Mudanças climáticas e saúde mental: um alerta urgente e silencioso

As mudanças climáticas não afetam apenas o planeta, elas também impactam profundamente nossa saúde mental. Estudos revelam o crescimento da eco-ansiedade e do sofrimento emocional diante de eventos extremos e da incerteza sobre o futuro.

Saúde mental, mudanças climáticas
As mudanças climáticas não deixam marcas apenas no ambiente, mas também na saúde emocional de milhões de pessoas.

As mudanças climáticas não estão apenas derretendo geleiras ou elevando o nível dos oceanos, elas também estão afetando nossa saúde mental. Em um mundo cada vez mais exposto a eventos extremos, como enchentes, ondas de calor e queimadas, cresce uma sensação de incerteza, impotência e medo em relação ao futuro.

Esse impacto emocional, muitas vezes invisível, tem ganhado destaque em estudos conduzidos por instituições como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e universidades como Stanford e Harvard.

A preocupação ambiental, que antes era considerada um tema técnico ou científico, passou a ter um peso emocional cotidiano. Nasce assim o conceito de eco-ansiedade, o desconforto psíquico provocado pela percepção das ameaças ambientais. Ainda pouco discutido fora dos círculos acadêmicos, esse fenômeno já afeta milhões de pessoas no mundo, sobretudo jovens e populações vulneráveis expostas diretamente às catástrofes climáticas.

Eco-ansiedade: o medo do colapso ambiental

A eco-ansiedade pode ser definida como um estado de angústia persistente gerado pela percepção de que estamos vivendo um colapso ambiental. Ainda que não seja considerada um transtorno mental clínico pelos manuais de diagnóstico, ela tem sido observada com frequência crescente entre adolescentes, ativistas climáticos e moradores de áreas impactadas por eventos extremos.

Ansiedade, pesquisa
Eco-ansiedade: o peso emocional de viver em um mundo ameaçado pelas mudanças climáticas.

Essa ansiedade ambiental se intensifica diante da sensação de inação dos governos e da falta de perspectivas reais de mitigação da crise. Muitas pessoas sentem que não importa o quanto reciclem ou economizem água, os efeitos do aquecimento global continuam a se agravar. Esse ciclo emocional de alerta constante, combinado com a impotência diante de grandes sistemas políticos e econômicos, tem contribuído para um aumento silencioso de sofrimento psíquico.

Como o clima afeta a saúde mental: sinais e consequências

Além da eco-ansiedade, eventos climáticos extremos como enchentes, secas prolongadas e incêndios podem desencadear sintomas mais graves, como depressão, transtornos de estresse pós-traumático (TEPT) e insônia crônica. O impacto não ocorre apenas durante o desastre, mas também nas semanas e meses seguintes, quando as vítimas enfrentam perdas materiais, insegurança alimentar e deslocamento forçado.

Abaixo, alguns sinais comuns associados ao sofrimento psíquico ligado ao colapso ambiental:

  • Medo constante do futuro e do colapso do planeta
  • Sensação de impotência ou de culpa por questões ambientais
  • Dificuldade para dormir ou concentração reduzida
  • Irritabilidade, apatia ou crises de choro sem explicação clara
  • Evitação de notícias ou conversas sobre clima por ansiedade

É essencial reconhecer que essas reações são válidas e compreensíveis. Por isso, diversos centros de pesquisa e saúde pública vêm propondo incluir a saúde mental nas estratégias de adaptação climática, como defendido pela OMS em seu relatório de 2022.

O desafio brasileiro: enchentes, queimadas e o peso invisível do trauma

O Brasil, infelizmente, é um dos países mais afetados pelas mudanças climáticas. Em 2023, os deslizamentos de terra no litoral de São Paulo causaram dezenas de mortes e deixaram milhares desabrigados. Em 2024, o Rio Grande do Sul enfrentou uma das maiores enchentes da história, com cidades submersas e populações inteiras deslocadas. Os impactos dessas tragédias vão além do que se vê nas imagens dos noticiários, persistem nos traumas não tratados, no medo constante de que o próximo evento esteja por vir.

Ainda que o Brasil conte com um sistema público de saúde, o apoio psicológico em situações de desastres ainda é escasso e pouco estruturado. Iniciativas locais, como os projetos de escuta comunitária em escolas e abrigos, têm buscado preencher esse vazio. No entanto, especialistas defendem que é hora de incluir a saúde mental como parte central da política climática brasileira. Afinal, proteger o meio ambiente também é proteger as emoções de quem nele vive.

Referência da notícia

Mental health and climate change: Policy brief. 22 de março, 2022. World Health Organization (WHO).