Incríveis raios vulcânicos em La Palma! Como se formam?
O aumento da explosividade experimentado nos últimos dias com a erupção do vulcão Cumbre Vieja, em La Palma, gerou, em determinados momentos, uma pluma de maior tamanho e densidade, na qual se formaram descargas elétricas, captadas em algumas fotos e vídeos .

Já se passaram mais de três semanas desde o início da erupção vulcânica do Cumbre Vieja, na ilha de La Palma, em 19 de setembro, e sua atividade continua frenética, fortalecendo-se inclusive nos últimos dias. Aos fluxos de lava, a formação de uma primeira plataforma de lava ou fajana (na gíria das Canárias), a mutação da pluma vulcânica e a queda das cinzas, foi adicionado um novo elemento: a ocorrência de alguns raios.
El Volcán de La Palma continúa mostrándonos su poder. Anoche vimos como se formaban decenas de rayos a su alrededor. pic.twitter.com/l52a2BYOSK
— Abián San Gil (@abiansangil) October 12, 2021
A geração de descargas elétricas em erupções vulcânicas está bem documentada, embora a erupção de La Palma, como vinha se comportando até agora, não fosse candidata a gerar raios, pois estes requerem maior explosividade e dimensões de pluma. Embora estejamos perante uma erupção do tipo estromboliana (relativamente modesta), os picos de atividade registados em alguns momentos possibilitaram a referida formação de raios, captados em alguns dos vídeos e fotografias.
Una de nuestras compañeras ha captado un rayo volcánico (seg 8 del vídeo). Las cenizas y los piroclastos que arroja el volcán inicialmente son neutros (sin carga eléctrica), pero la fricción entre ellos en un ambiente hostil provoca la liberación de iones en el penacho volcánico. pic.twitter.com/MxIfy9PiRR
— INVOLCAN (@involcan) October 11, 2021
O processo físico que dá origem a esses raios vulcânicos é semelhante ao que ocorre dentro das nuvens de tempestade, onde o violento atrito entre o granizo e as gotas de água super-resfriadas que se formam na parte média e superior do cumulonimbus, estão ionizando o ar, graças ao fenômeno da indução elétrica, gerando o que é popularmente conhecido como carga estática (ou eletricidade). A separação de cargas –positivas e negativas– que ocorre dentro da nuvem, dá origem a uma grande diferença de potencial, que acaba causando a descarga elétrica.
O caso específico em Cumbre Vieja
No caso particular dos vulcões, como o Cumbre Vieja, é o atrito entre os piroclastos (desde pequenas cinzas até elementos sólidos maiores como lapilli ou bombas vulcânicas) e também com gotas de água presentes na pluma, aquela que gera eletricidade, carrega e também culmina na formação de raios, tanto entre duas áreas internas da própria coluna eruptiva, quanto entre um ponto desta e outro localizado fora (ou no ar ou na terra). No momento em que a pluma vulcânica da erupção de La Palma aumenta de tamanho e a densidade dos elementos que a compõem também é maior, criam-se condições favoráveis para a geração de descargas elétricas.

Estima-se que entre 27 e 35% das erupções vulcânicas que ocorrem no mundo geram raios. Muitos deles não são visíveis a olho nu devido à alta opacidade da pluma, embora com técnicas especiais de observação seja possível detectá-los. Alguns foram fotografados na erupção de La Palma. Se o processo eruptivo continuar com uma explosividade igual ou maior que a atual, não serão os últimos raios que poderemos ver. Se nada mais for observado, será sinal de um certo declínio ou estagnação na emissão dos piroclastos, o que não implica necessariamente uma menor emissão de lava das diferentes bocas do vulcão, o que hoje é o que mais preocupa, pois a devastação gerada pelas lavagens em seu rastro.