Conheça 'Point Nemo': o “cemitério” de espaçonaves no oceano Pacífico

No meio do oceano Pacífico Sul, a cerca de 2.700 km da terra mais próxima, está o Ponto Nemo, o local mais distante de qualquer continente ou ilha, que é lar de espaçonaves e outros objetos espaciais sem uso.

Point Nemo, oceano Pacífico
Ponto Nemo ('Point Nemo') é o local mais isolado dos oceanos do mundo – a terra mais próxima fica a 2.688 km de distância. Crédito: @2023 Google INEGI.

O local, que é o mais isolado do mundo, está localizado no meio do Oceano Pacífico Sul e é um “cemitério” de espaçonaves velhas, que perderam o uso. Por ser o local mais longe de qualquer continente ou ilha, também é conhecido como “Polo de Inacessibilidade do Pacífico”. No latim, seu nome significa “ninguém”, o que representa bastante o quão desconhecida é a região.

O que existe no Ponto Nemo?

Este local distante é como um “cemitério” a céu aberto de espaçonaves que não são mais utilizadas, assim como satélites e navios de carga. A lista de lixo espacial inclui a Estação Espacial Mir da era soviética, 6 naves do programa Salyut do país, 140 veículos de reabastecimento da Rússia, 6 veículos de transferência de carga lançados pelo Japão e 5 da Agência Espacial Europeia (ESA). E espera-se que a Estação Espacial Internacional (ISS) também aterre nesta “lixeira” daqui a oito anos.

A área não é usada para qualquer outra atividade humana, como transporte marítimo ou pesca. Os humanos mais próximos são os astronautas da ISS; isso porque a estação está a apenas 415 Km de distância (altitude) quando passam por cima. Já o lugar habitado mais próximo fica a cerca de 2.700 quilômetros de distância.

Ponto Nemo ('Point Nemo') é um local extremamente remoto no oceano Pacífico Sul, que abriga espaçonaves, estações espaciais e outros grandes objetos espaciais que chegaram ao fim de suas vidas úteis.

Poucos seres vivos vivem no local. Isso porque o Ponto Nemo está no meio do Giro do Pacífico Sul, uma imensa corrente oceânica giratória com águas superficiais de 5,8 ºC, que bloqueia a entrada de água mais fria e rica em nutrientes. Além disso, o vento carrega pouca matéria orgânica, o que deixa a área mais estéril à vida. É, portanto, uma região propícia apenas à proliferação de bactérias, que podem sustentar seres como o caranguejo-yeti.

Como encontrar esse local num globo?

Para isso, basta procurar no globo terrestre a vasta faixa de azul ininterrupto entre a Nova Zelândia e o sul do Chile – fica aproximadamente na metade do caminho. Para uma localização mais exata, trace um triângulo entre três ilhas equidistantes: a Ilha Dulce no norte (que fica próxima à Polinésia Francesa), a Ilha de Maher na Antártica, a sul, e a Ilha Motu Nui, uma das Ilhas de Páscoa, a nordeste. O local estará dentro desse triângulo.

O lugar foi descoberto em 1992, pelo engenheiro e pesquisador Hrvoje Lukatela, usando um software de computador. Em entrevista à BBC, ele explicou que a ”localização de três pontos equiláteros é bastante única e não há outros pontos na superfície da Terra que poderiam substituir qualquer um deles”.

Ilha Motu Nui
A Ilha Motu Nui, ao sul da Ilha de Páscoa, é uma das três ilhas mais próximas do Ponto Nemo. Crédito: Kallerna/Wikimedia Commons.

Porém, com o passar do tempo, pode ser que ocorram mudanças na localização do Ponto Nemo devido à erosão costeira, ou até ser realizada uma medição mais precisa. Contudo, essa alteração seria na ordem de metros.

O futuro no Ponto Nemo

O Ponto Nemo é, e provavelmente continuará sendo, uma mina de ouro para futuros arqueólogos. Isso porque o acúmulo de lixo no local poderá trazer informações importantes sobre como a tecnologia mudou ao longo do tempo, quais os primeiros objetos jogados e os mais recentes, que tipo de mudanças tecnológicas ou de materiais veremos nos anos seguintes…

Segundo Alice Gorman, professora de arqueologia espacial na Universidade Flinders, na Austrália, desde 2013 houve uma queda radical no número de descartes no local. “Isso é uma mudança de valor – as pessoas estão começando a valorizar a reciclagem, a reutilização e a minimização dos danos ambientais”, disse ela.

E embora ainda ninguém tenha conseguido encontrar objetos espaciais nas profundezas do Ponto Nemo, certamente há muitos por lá, banhados pela escuridão total no fundo do mar.