A La Niña está de volta e promete ficar para o verão!

Os últimos registros oceânicos e atmosféricos mostram que a La Niña finalmente ressurgiu sobre o Oceano Pacífico Tropical nessa primavera e tudo indica que ela persistirá e ganhará força durante o verão do Hemisfério Sul.

La Niña
As anomalias de TSM das últimas semanas mostram que águas mais frias que o normal surgiram em grande parte do Pacífico Tropical, indicando o início da La Niña. Imagem: BenNollWeather/ Twitter.

Como já estava sendo previsto nos últimos meses, a La Niña retornou, pelo segundo ano seguido no Pacífico Tropical! As condições atmosféricas e oceânicas observadas nas últimas semanas sobre o Pacífico indicam o acoplamento oceano-atmosfera característico da fase negativa do fenômeno El Niño - Oscilação Sul (ENOS).

De acordo com o CPC, há uma probabilidade de 87% das condições de La NIña persistirem entre dezembro de 2021 e fevereiro de 2022, período de verão do Hemisfério Sul.

O último resumo do diagnóstico do Centro de Previsão do Clima (CPC) da NOAA confirma que condições de La Niña se desenvolveram sobre o Pacífico Tropical, após serem registrados nas primeiras semanas de outubro valores negativos de anomalia da Temperatura da Superfície do Mar (TSM) nas regiões do Niño 3.4 e Niño 4, de -0.6°C e -0.7°C, respectivamente, principais regiões usadas para inferir sobre um evento de La Niña.

Há alguns meses já estávamos observando o surgimento e fortalecimento de uma bolha de águas mais frias que o normal em profundidade no Pacífico Tropical. No final de setembro e início de outubro essas águas mais frias ficaram ainda mais intensas e conseguiram emergir em superfície na porção central do Pacífico. Com isso, o Índice Oceânico do Niño (ONI, na sigla em inglês) registrou um valor de -0.5°C no último trimestre de julho, agosto e setembro.

Tudo indica que a La Niña veio para ficar!

Além do surgimento das águas mais frias em superfície, para termos um evento estabelecido de fato e com chances de durar por vários meses, precisamos de uma resposta acoplada da atmosfera! No caso da La Niña, precisamos de uma célula de Walker mais intensa que o normal para manter as águas quentes do Pacífico bem a oeste e favorecer a ressurgência no Pacífico Leste, que mantém as águas frias nos setores central e leste.

Estamos observando isso no momento? Sim! Nos últimos campos atmosféricos de anomalia de ventos próximos a superfície é possível observar que os ventos alísios estão mais fortes que o normal e nos registros de anomalia de Radiação de Onda Longa (variável usada para observar a intensidade da convecção tropical) vemos que a convecção sobre o Pacífico Tropical Oeste está mais forte, esses são sinais de uma Célula de Walker fortalecida!

Além disso, praticamente todos os modelos climáticos estão prevendo que as condições mais frias prevalecerão sobre o Pacífico Tropical nos próximos meses. Inclusive a maioria deles aponta que a intensidade dessas anomalias classificará o evento como uma La Niña moderada, assim como o evento passado do verão de 2020-21.

Com esse acoplamento entre o oceano e atmosfera bem estabelecido, podemos esperar que a La Niña passe a influenciar o regime de chuvas do Brasil nos próximos meses. Como já mencionado em artigos anteriores, geralmente em anos de La Niña são registrados acumulados de precipitação acima da média nas regiões Norte e Nordeste e abaixo da média sobre o Centro-Sul do país.

Dois anos consecutivos de La Niña: é possível?

Ao olharmos os históricos de índices que monitoram o ENOS, como o índice ONI, vemos que desde 1950 até agora tivemos os registros de 25 El Niños e 24 La Niñas. Nesse histórico é possível notar que geralmente os eventos de La Niña ocorrem em verões consecutivos, ou seja, um primeiro evento surge num verão, perde força no inverno retornando à neutralidade, mas começa a ressurgir na primavera e se configura como um segundo evento de La Niña no verão seguinte.

Portanto é bem comum a ocorrência de 2 eventos de La Niña em verões consecutivos, diferente de seu antagônico, o El Niño, que é muito raro ocorrer de forma consecutiva, devido aos diferentes processos de acoplamento entre o oceano e a atmosfera.