A estranha trajetória dos elefantes que escaparam de reserva na China

Por um ano, esses paquidermes escaparam de uma reserva natural e atravessaram o país, direto para o norte, causando prejuízos onerosos. O motivo dessa estranha migração ainda é desconhecido e chama a atenção tanto da população chinesa quanto da comunidade científica.

Elephant d'Asie
Uma manada de 15 elefantes asiáticos fascinou a população chinesa desde o início de sua jornada, que começou em abril de 2020. Em um ano, os paquidermes viajaram para o norte da China e percorreram uma distância de 500 quilômetros.

Tudo começou em abril de 2020, quando uma manada de 15 elefantes asiáticos escapou da Reserva Nacional de Xishuangbanna (na fronteira entre o Laos e a Birmanie) e começou sua jornada pela China. A migração desses paquidermes é normal. Já outro grupo de elefantes - da mesma reserva - foi avistado a 60 quilômetros de seu habitat natural.

Mas essa tropa começou a intrigar a comunidade científica e especialmente os zoólogos em abril passado, quando foi localizado no condado de Yuanjian, a 400 quilômetros de Xishuangbanna. Na verdade, ninguém parece saber explicar o motivo desta estranha viagem, cujos danos foram estimados em cerca de 1,1 milhão de dólares. Esta é a maior migração de paquidermes já registrada na China.

Milhões de dólares em danos

Monitorados pelas autoridades equipadas com drones para evitar qualquer risco à população, as imagens mostram os 15 fugitivos parados nas principais estradas ou saqueando campos de milho. Os animais, que foram observados cruzando vilas habitadas à noite, também esvaziaram um tanque de água e saquearam uma fazenda de grãos, esmagando algumas galinhas durante a passagem ou mesmo obstruindo portões de garagem, impedindo a entrada de automóveis.

Nenhum ferimento foi reportado entre a população, nem na manada que tem três filhotes de elefantes, incluindo um bebê nascido em dezembro do ano passado. Mas, a mídia estatal estima os danos causados em 6,8 milhões de yuans (cerca de 870 mil euros), além de 56 hectares de plantações devastadas. Para canalizar os viajantes, as autoridades tentam atraí-los com alimentos e desviar sua trajetória bloqueando as estradas com caminhões.

Uma viagem pela megalópole de Kunming

A situação é complicada: as autoridades não podem parar os mastodontes porque eles são protegidos desde 1986. Os elefantes asiáticos fazem parte da lista vermelha de espécies ameaçadas de extinção e passaram de uma população de 200 indivíduos na década de 1980 para 300 nos últimos anos. O objetivo é, portanto, redirecioná-los para o sul mas, por enquanto, os fugitivos estão se aproximando da megalópole de Kunming, em Yunnan, habitada por quase oito milhões de pessoas.

Mas uma pergunta permanece: porque eles começaram esta viagem? "É incomum para eles irem além de 100 quilômetros neste país", explica Becky Shu Chen, pesquisador do Grupo de Especialistas em Elefantes Asiáticos (AsESG). Uma das causas pode ser a comida, segundo a bióloga espanhola Ahimsa Campos-Arceiz: "Os elefantes aprenderam que há muita comida, que é nutritiva, fácil de encontrar e segura". Especialmente porque as plantas que eles comem estão se tornando cada vez mais raras porque são substituídas por plantas não-comestíveis.