Como será o clima neste verão no Brasil: a especialista Ana Maria Nunes nos traz a previsão e conta sobre o La Niña
Modelos climáticos projetam o verão com temperaturas acima da média e chuvas irregulares, concentradas na região Norte.
O verão é a estação mais aguardada por muitas pessoas, marcada por dias mais longos, temperaturas elevadas e um regime de chuvas que varia amplamente de acordo com a região. Os oceanos têm um papel fundamental na regulação do clima, onde variações da temperatura da superfície do mar podem desenvolver ou alterar padrões de circulação do ar. Isso influencia diretamente as condições de chuva e temperatura em diversas partes do planeta.
A região do oceano Pacífico equatorial tem uma grande influência sobre o clima no Brasil, através do fenômeno conhecido como El Niño Oscilação-Sul (ENSO). Este fenômeno é composto por três fases: o famoso El Niño, onde as águas estão mais quentes que o normal; La Niña, quando as águas estão mais frias que o normal e uma fase de neutralidade, com temperaturas próximas da média. Essas fases ocorrem intercaladas e duram, em média, 2 anos.
No entanto, as condições oceânicas deste ano têm trazido incertezas sobre a intensidade e os impactos do fenômeno na estação. Confira agora a previsão da Meteored | Tempo.com para o clima do Brasil durante verão 2024/2025!
Status da La Niña: monitoramento e previsão
Ao longo de 2024, os modelos climáticos indicaram com alta probabilidade a formação precoce de uma La Niña de intensidade moderada. Contudo, as projeções mudaram significativamente desde o início do ano. Em Abril, por exemplo, estimava-se com mais de 80% de probabilidade que sua consolidação ocorreria entre outubro e dezembro.
Atualmente, as condições no Pacífico equatorial permanecem neutras, com temperaturas da superfície do mar próximas da média. Segundo o último boletim da NOAA - órgão dos Estados Unidos responsável pelo monitoramento oficial do fenômeno - publicado em novembro, há 57% de chance de La Niña se formar até Dezembro e persistir até março do próximo ano.
Apesar da diminuição progressiva da probabilidade de formação de La Niña, as anomalias subsuperficiais (ou seja, da água abaixo da superfície do oceano) negativas de temperatura da superfície do mar na região leste-central do Pacífico e sinais atmosféricos característicos - como padrões de ventos de baixos níveis e de pressão atmosférica - sugerem que o desenvolvimento de uma La Niña fraca ainda é possível.
Essa configuração tende a ter impactos limitados na circulação atmosférica global. Além disso, a resposta atmosférica em relação às variações de temperatura do oceano não é imediata. Isso significa que, caso se estabeleça, sua influência no clima do verão brasileiro deve ser menos pronunciada do que em episódios mais intensos e/ou que se estabelecem durante a primavera.
A próxima atualização oficial sobre o fenômeno será divulgada no dia 12 de dezembro de 2024. Até lá, os especialistas continuam monitorando as condições do oceano e da atmosfera para refinar as projeções climáticas e identificar possíveis mudanças no padrão esperado para o verão.
Análise da previsão climática do modelo ECMWF
O modelo europeu ECMWF concorda com a previsão da NOAA, indicando condições de temperatura da superfície do mar favoráveis ao desenvolvimento de um evento La Niña de fraca intensidade durante o trimestre de Dezembro-Janeiro-Fevereiro.
A imagem abaixo mostra a previsão de anomalia da temperatura da superfície do mar, com destaque para os oceanos muito aquecidos no hemisfério Norte e a região do Pacífico equatorial com previsão de anomalias negativas entre 0.5°C a 1.0ºC. O termo anomalia se refere a um desvio em relação à média. Neste caso, o que o mapa mostra é a diferença entre a média de temperatura da superfície do mar prevista para o trimestre de verão 2024/2025 em comparação com a média do mesmo trimestre no período entre 1993-2016.
Apesar do impacto reduzido, os campos de temperatura e precipitação previstos para o verão no Brasil refletem padrões condizentes a um evento La Niña de fraca intensidade. Isso quer dizer que, de fato, as chuvas tendem a ficar acima da média na região Norte, enquanto a temperatura, mesmo que acima da média, não deve ser tão extrema quanto verão passado.
A previsão do ECMWF, com rodada iniciada em Novembro, indica temperaturas acima da média em toda a extensão territorial do país no trimestre de verão. Porém, as anomalias mais intensas devem se concentrar na região Nordeste, especialmente no Sertão, com desvios de até 2ºC acima da média. Como visto na imagem abaixo, a maior parte do Brasil deve ter temperaturas de até 0.5°C acima da média, sendo que a região Centro-Oeste e norte do Sudeste podem registrar desvios intermediários, entre 0.5°C e 1.0°C acima da média.
Entretanto, a rodada do ECMWF iniciada em Dezembro (a mais atual), com validade para o trimestre de Janeiro-Fevereiro-Março, mostra chuva acima do normal em toda a faixa norte do país, incluindo tanto o Norte como o Nordeste. Também há previsão de anomalias positivas de precipitação no litoral do Sudeste. Isso indica que o modelo atualizou a previsão ao incluir os dados mais recentes do mês de novembro.
Agora, vamos ver em detalhes o que esperar de cada um dos meses de verão 2024/2025 com base na rodada mais atual do ECMWF, iniciada em 1º de Dezembro.
Dezembro
O mês de Dezembro deve ter os maiores desvios de temperatura da estação. Com exceção da região Sul e a costa norte do Nordeste, o restante do país deve ter desvios positivos de temperatura de pelo menos 0.5ºC.
As maiores anomalias positivas de temperatura devem ocorrer entre o Nordeste e o Sudeste, até com até 4ºC acima da média. Essa bolha mais quente se estende em direção ao Mato Grosso do Sul, onde a temperatura deve ficar entre 1.5ºC e 2.0ºC acima da média. Ou seja, a rodada atualizada mostra anomalias mais intensas e em uma área maior do que aquela prevista em Novembro.
A precipitação prevista para o mês de Dezembro deve ser abaixo do normal em quase todo o Sudeste, centro-sul do Nordeste e Centro-Oeste, com desvios da ordem de 50 mm. A região Sul e a região Norte devem ter chuvas acima da média.
Janeiro
No mês de Janeiro, a previsão de anomalia de temperatura mostra que os desvios devem ser menores em relação à média do que em Dezembro.
De forma geral, o Sul e o Norte devem ter temperaturas dentro da média, enquanto o Sudeste, Centro-Oeste e centro sul do Nordeste têm previsão de temperaturas acima da média, entre 1.0ºC e 1.5ºC.
Em relação à precipitação, as chuvas devem ser abaixo da média numa faixa entre o Sudeste e o Centro-Oeste, assim como em grande parte do Rio Grande do Sul. Previsão de chuva acima da média na costa norte do Nordeste, região Norte e numa área entre Paraná e o litoral sul do Sudeste.
Fevereiro
No último mês do verão, a temperatura deve ficar na média em quase todo o país. As exceções, no entanto, compreendem o oeste do Mato Grosso do Sul e a área entre o Nordeste e o Sudeste, que devem ter temperaturas até 1.0ºC acima da média.
A precipitação, por sua vez, deve ficar acima da média em uma banda com orientação noroeste-sudeste, compreendo a região Norte, Nordeste (com exceção da faixa leste) Centro-Oeste e Sudeste. Previsão de déficit hídrico no litoral do Nordeste, no Rio Grande do Sul e na fronteira oeste do Brasil, entre os estados de Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. Este padrão é característico da ocorrência de zonas de convergência de umidade, como a famosa Zona de Convergência do Atlântico Sul.
Embora as projeções climáticas indiquem que as temperaturas e precipitações médias no verão 2024/2025 tendem a se alinhar aos padrões moderados, é importante lembrar que a média suaviza valores extremos. Isso não elimina a possibilidade de eventos pontuais significativos, como ondas de calor ou períodos de chuva intensa, que podem ocorrer ao longo da estação.
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