DNA revela passado ‘verde’ do Saara e suas primeiras ocupações humanas

Pesquisas recentes revelam DNA de mulheres antigas do Saara, oferecendo uma visão in��dita sobre a região quando era uma savana exuberante, habitada por humanos e diversas formas de vida, há 7 mil anos.

Saara já uma vasta savanna exuberante, com vegetação densa, rios e lagos. Crédito: Universidade de Roma La Sapienza/via Reuters

Pesquisas realizadas recentemente no deserto do Saara, o maior deserto quente do mundo, trouxeram novas descobertas sobre o passado da região e os primeiros habitantes humanos.

Um estudo publicado na revista Nature revelou o DNA de duas mulheres que viveram no Saara há cerca de 7 mil anos, fornecendo detalhes inéditos sobre a geologia, a fauna e a flora do deserto quando ele ainda era uma região fértil e habitada.

Durante o período conhecido como Período Úmido Africano (AHP), entre 14.800 e 5.500 anos atrás, o Saara era uma vasta savanna exuberante, com vegetação densa, rios e lagos.

DNA antigo revela um Saara fértil e cheio de vida

Ao contrário da imagem árida e inóspita que o deserto tem hoje, essa fase foi marcada por uma abundância de vida selvagem, incluindo predadores e espécies de peixes que serviam de alimento para dinossauros. Essas condições favoreciam a ocupação humana e outras formas de vida.

A pesquisa é inovadora, já que poucas evidências de DNA humano ancestral foram encontradas no norte da África devido às condições extremas do Saara.

A descoberta de amostras genéticas dessas mulheres em um sítio arqueológico em Takarkori, na Líbia, oferece uma visão rara sobre os antigos habitantes do deserto.

Descoberta genética inédita em sítio arqueológico na Líbia

Pesquisadores compararam os genomas dessas mulheres com o DNA de 800 humanos modernos e 117 antigos de várias partes da África, Europa e Oriente Médio. Crédito: Universidade de Roma La Sapienza/via Reuters

Esse local, escavado entre 2003 e 2007, revelou os restos mortais de 15 pessoas enterradas entre 8.900 e 4.800 anos atrás, sugerindo que a transição de caçadores-coletores para pastores começou na região por volta de 8 mil anos atrás.

Os pesquisadores compararam os genomas dessas mulheres com o DNA de 800 humanos modernos e 117 antigos de várias partes da África, Europa e Oriente Médio.

O estudo desafiou a hipótese de que o pastoreio no Saara teria sido introduzido por migrantes do Levante, mostrando que os ancestrais das mulheres de Takarkori possuíam poucas conexões genéticas com povos do Levante.

Uma nova visão sobre a pré-história do deserto

Em vez disso, essas mulheres pertenciam a uma população que surgiu no norte da África há cerca de 60 mil anos, no mesmo período em que os ancestrais de todos os humanos modernos deixaram o continente africano.

A pesquisa também sugere que o pastoreio no Saara pode ter sido uma adoção cultural em vez de uma migração direta. O isolamento da região, com suas condições adversas e animais predadores, provavelmente limitava a interação com outras populações, mantendo o Saara como um território isolado e difícil de ser acessado.

Essa descoberta não apenas ilumina o passado do Saara, mas também amplia o conhecimento sobre as primeiras ocupações humanas no norte da África, revelando um cenário muito diferente do deserto árido e infértil que conhecemos hoje.

Referência da notícia

Folha de São Paulo. Saara, antes uma savana exuberante, foi o lar de uma linhagem humana que vivia isolada. 2025