Apagões e energia renovável: o desafio de manter a luz acesa em meio a extremos climáticos
Uma pesquisa recente alerta que eventos climáticos extremos podem causar apagões em cascata em redes elétricas renováveis. O estudo destaca a importância do armazenamento de energia para evitar colapsos e garantir um fornecimento estável e seguro no Brasil e no mundo.

A mudança climática já está impactando a forma como produzimos e consumimos energia. Uma pesquisa recente publicada na Nature Communications revelou que eventos climáticos extremos, como furacões e tempestades, podem desencadear apagões em cascata, especialmente em redes elétricas que dependem fortemente de fontes renováveis.
A relevância desse estudo é clara: o mundo está caminhando para uma eletricidade mais sustentável, mas precisamos entender os riscos associados. No Brasil, onde as fontes renováveis já representam uma parcela significativa da geração de energia, é essencial avaliar como o sistema pode lidar com os desafios impostos por eventos climáticos cada vez mais intensos.
Como os eventos climáticos afetam a rede elétrica?
A pesquisa analisou o caso de Porto Rico durante o furacão Fiona, em 2022, e mostrou que os apagões podem se propagar em efeito dominó, com falhas iniciais levando a colapsos generalizados. Redes elétricas tradicionais já enfrentam dificuldades em situações extremas, mas a crescente integração de fontes renováveis adiciona novos desafios.
Entre os principais impactos observados estão:
- A energia solar pode ser severamente reduzida por nuvens densas e detritos em painéis fotovoltaicos.
- Turbinas eólicas têm um limite de velocidade do vento para operação segura e podem precisar ser desligadas em tempestades muito fortes.
- Redes descentralizadas podem dificultar o controle da estabilidade elétrica, já que a oferta de energia varia conforme as condições climáticas.
Esses fatores tornam essencial o desenvolvimento de modelos avançados de previsão e resposta para minimizar os impactos de eventos extremos na infraestrutura elétrica.
A solução está no armazenamento de energia?
Uma das principais conclusões do estudo é que o armazenamento de energia pode ser a chave para garantir a segurança elétrica em um mundo cada vez mais dependente de fontes renováveis. Sem mecanismos eficazes de armazenamento, a instabilidade pode se tornar um problema crítico.

Baterias de grande escala, como as usadas em sistemas de backup e estabilização de rede, ajudam a absorver excedentes de energia solar e eólica durante momentos de alta geração. Além disso, podem liberar eletricidade em momentos de baixa produção ou emergências e melhorar a estabilidade da rede ao reduzir oscilações bruscas na oferta de energia.

A pesquisa também sugere que redes elétricas mais inteligentes e flexíveis podem contribuir para uma distribuição mais eficiente da eletricidade, minimizando os impactos de apagões generalizados.
E no Brasil?
O Brasil é um dos líderes mundiais na geração de energia renovável, com uma matriz baseada em hidrelétricas, solar e eólica. No entanto, eventos climáticos extremos, como secas prolongadas e tempestades severas, podem comprometer a estabilidade do sistema elétrico.

A seca de 2021, por exemplo, reduziu drasticamente os níveis dos reservatórios, obrigando o país a recorrer às usinas termoelétricas, que são mais poluentes e caras. Para evitar esse tipo de vulnerabilidade, é essencial investir em soluções como a expansão de sistemas de armazenamento de energia para garantir suprimento em momentos críticos e a melhoria na interconexão entre diferentes regiões do país, reduzindo o risco de falhas localizadas afetarem grandes áreas.
Com planejamento adequado e investimento em inovação, o Brasil pode continuar avançando na transição energética sem comprometer a segurança elétrica. Afinal, uma matriz limpa e eficiente é essencial não apenas para combater a mudança climática, mas também para garantir que a luz continue acesa, mesmo diante dos desafios do futuro.
Referência da notícia
Quantifying cascading power outages during climate extremes considering renewable energy integration. 16 de março, 2025. Xu, L., Lin, N., Poor, H.V. et al.