Teoria de cientistas na Nature: "O gelo de Marte poderia vir de erupções vulcânicas"
Um novo estudo publicado na Nature revela que grande parte do gelo marciano pode ter origem vulcânica, mudando o que sabíamos sobre o passado climático e geológico do Planeta Vermelho.

Durante décadas, cientistas debateram a origem do gelo que cobre parte da superfície marciana. As teorias mais aceitas apontavam para uma origem atmosférica: ciclos de resfriamento que aprisionaram vapor de água nos polos.
No entanto, um estudo publicado recentemente por geólogos e astrofísicos na prestigiosa revista Nature propõe um cenário muito diferente: grande parte desse gelo poderia ter se formado a partir do vapor liberado por grandes erupções vulcânicas ocorridas há milhões de anos.
O importante papel dos vulcões marcianos
Marte é um planeta de contrastes extremos. Por exemplo, sua superfície abriga o maior vulcão do sistema solar, o Olympus Mons, com quase 22 quilômetros de altura.
The highest mountain in the solar system, Olympus Mons on Mars, has a height of approximately 22 kilometers (13.6 miles) above the surrounding plains.
— Black Hole (@konstructivizm) October 22, 2025
This colossal shield volcano dwarfs Earth's tallest peak, Mount Everest, which rises only about 8.8 kilometers above sea level. pic.twitter.com/Q9OjZARF39
Segundo os autores do estudo, essas erupções expeliram enormes quantidades de vapor d'água e dióxido de carbono para a atmosfera. Sob as condições frias do Planeta Vermelho, esse vapor teria se condensado e se depositado como gelo, criando vastas geleiras que ainda existem nas regiões polares e no subsolo.
Os pesquisadores usaram modelos climáticos e simulações geoquímicas avançadas para demonstrar que gases vulcânicos poderiam ter gerado nuvens de vapor capazes de formar camadas de gelo com vários metros de espessura, especialmente nas altas altitudes do hemisfério norte marciano.
Uma assinatura química distinta
Uma das descobertas mais interessantes do estudo é que o gelo analisado mostra uma proporção diferente de isótopos de oxigênio e deutério do que o esperado se a água tivesse se originado apenas de processos atmosféricos.
Essa assinatura isotópica, no entanto, coincide com aquela observada em depósitos minerais vulcânicos conhecidos por se formarem a partir de vapor magmático.
Implicações para a busca de vida e missões futuras
A descoberta tem implicações que vão muito além da geologia, porque se o gelo em Marte é de origem vulcânica, isso implica que em algum momento houve uma interação intensa entre calor, água e minerais — os três ingredientes fundamentais para a vida.
Explosive volcanic eruptions on early Mars may have transported water ice to equatorial regions, according to a modelling study in @NatureComms. https://t.co/kdcM9nkFPL pic.twitter.com/yFW1r9qBGd
— Nature Portfolio (@NaturePortfolio) October 18, 2025
Além disso, essa teoria pode ser fundamental para futuras missões tripuladas ao Planeta Vermelho. Saber onde o gelo se formou e que tipo de água ele contém nos permitirá selecionar os locais mais seguros e produtivos para extrair água para consumo, produzir oxigênio ou fabricar combustível.
As agências espaciais NASA (americana) e a ESA (europeia) já manifestaram interesse em incorporar esses resultados no planejamento das missões Mars Sample Return e ExoMars, que buscam analisar amostras do subsolo marciano em laboratórios terrestres.
Referência da notícia
Precipitation induced by explosive volcanism on Mars and its implications for unexpected equatorial ice. 14 de outubro, 2025. Hamid, et al.