Teoria de cientistas na Nature: "O gelo de Marte poderia vir de erupções vulcânicas"

Um novo estudo publicado na Nature revela que grande parte do gelo marciano pode ter origem vulcânica, mudando o que sabíamos sobre o passado climático e geológico do Planeta Vermelho.

Representação de Olympus Mons, a montanha mais alta dos planetas do Sistema Solar.

Durante décadas, cientistas debateram a origem do gelo que cobre parte da superfície marciana. As teorias mais aceitas apontavam para uma origem atmosférica: ciclos de resfriamento que aprisionaram vapor de água nos polos.

No entanto, um estudo publicado recentemente por geólogos e astrofísicos na prestigiosa revista Nature propõe um cenário muito diferente: grande parte desse gelo poderia ter se formado a partir do vapor liberado por grandes erupções vulcânicas ocorridas há milhões de anos.

O importante papel dos vulcões marcianos

Marte é um planeta de contrastes extremos. Por exemplo, sua superfície abriga o maior vulcão do sistema solar, o Olympus Mons, com quase 22 quilômetros de altura.

Segundo os autores do estudo, essas erupções expeliram enormes quantidades de vapor d'água e dióxido de carbono para a atmosfera. Sob as condições frias do Planeta Vermelho, esse vapor teria se condensado e se depositado como gelo, criando vastas geleiras que ainda existem nas regiões polares e no subsolo.

Os pesquisadores usaram modelos climáticos e simulações geoquímicas avançadas para demonstrar que gases vulcânicos poderiam ter gerado nuvens de vapor capazes de formar camadas de gelo com vários metros de espessura, especialmente nas altas altitudes do hemisfério norte marciano.

Uma assinatura química distinta

Uma das descobertas mais interessantes do estudo é que o gelo analisado mostra uma proporção diferente de isótopos de oxigênio e deutério do que o esperado se a água tivesse se originado apenas de processos atmosféricos.

“Isso sugere que uma fração significativa da água congelada atual em Marte pode ter sido liberada diretamente do interior do planeta” - explica Yuki Tanaka, geoquímico da Universidade de Tóquio e coautor do estudo.

Essa assinatura isotópica, no entanto, coincide com aquela observada em depósitos minerais vulcânicos conhecidos por se formarem a partir de vapor magmático.

Implicações para a busca de vida e missões futuras

A descoberta tem implicações que vão muito além da geologia, porque se o gelo em Marte é de origem vulcânica, isso implica que em algum momento houve uma interação intensa entre calor, água e minerais — os três ingredientes fundamentais para a vida.

Além disso, essa teoria pode ser fundamental para futuras missões tripuladas ao Planeta Vermelho. Saber onde o gelo se formou e que tipo de água ele contém nos permitirá selecionar os locais mais seguros e produtivos para extrair água para consumo, produzir oxigênio ou fabricar combustível.

As agências espaciais NASA (americana) e a ESA (europeia) já manifestaram interesse em incorporar esses resultados no planejamento das missões Mars Sample Return e ExoMars, que buscam analisar amostras do subsolo marciano em laboratórios terrestres.

Referência da notícia

Precipitation induced by explosive volcanism on Mars and its implications for unexpected equatorial ice. 14 de outubro, 2025. Hamid, et al.