Pela primeira vez na história, a produção global de energia solar ultrapassou a de energia nuclear

Isso não representa apenas uma mudança tecnológica, mas também simbólica. Marca o início de uma nova era energética, na qual a produção limpa, descentralizada e acessível pode deixar para trás modelos tradicionais baseados em grandes instalações centralizadas.

placas solares
A produção de energia solar ultrapassou a energia nuclear pela primeira vez em um salto histórico.

A transição energética global atingiu um marco sem precedentes: a produção global de energia solar ultrapassou a produção de energia nuclear pela primeira vez. Uma conquista impulsionada principalmente pela implantação em massa de painéis solares na China, Índia, Estados Unidos e em vários países da União Europeia.

De acordo com dados publicados pelo grupo de análise da indústria energética EMBER, a geração de energia solar atingiu 233 terawatts-hora (TWh) em abril passado, superando ligeiramente os 213 TWh gerados por usinas nucleares em todo o mundo.

Essa tendência marca uma mudança significativa no cenário energético internacional e consolida a energia solar como um pilar fundamental do fornecimento de eletricidade do futuro.

Uma década de crescimento acelerado

O aumento na produção de energia solar é meteórico. Em 2015, representava apenas 1% da matriz elétrica global (a combinação de diferentes fontes de energia que cobrem o fornecimento). Dez anos depois, sua participação ultrapassa 12%.

A queda sustentada dos custos de instalação — que caíram mais de 80% desde 2010 — e políticas públicas cada vez mais favoráveis ao desenvolvimento de fontes de energia renováveis foram fundamentais para esse progresso.

Para o economista turco Fatih Birol, diretor executivo da Agência Internacional de Energia (AIE), "estamos testemunhando um ponto de virada histórico" em que "a energia solar não é apenas mais limpa, mas, na maioria dos mercados, já é mais barata do que muitas fontes tradicionais". Para o especialista, “essa tendência é irreversível”.

Países na vanguarda da produção de energia solar

O novo cenário não tem apenas implicações ambientais, mas também geopolíticas e econômicas. Isso porque a corrida pela liderança em tecnologias renováveis redefinirá as regras do jogo energético na segunda metade do século 21.

Por enquanto, o principal impulsionador do crescimento da energia solar continua sendo a China. Só em 2024, o gigante asiático instalou mais de 200 gigawatts (GW) de energia fotovoltaica. É o equivalente a toda a capacidade de produção solar do Brasil.

Por sua vez, a Índia conseguiu dobrar sua capacidade instalada nos últimos três anos. Uma conquista que faz parte da estratégia deste país para reduzir sua dependência do carvão e melhorar a qualidade do ar em suas cidades mais poluídas, que causam cerca de 2,3 milhões de mortes prematuras a cada ano.

A Europa também pode se orgulhar de ter experimentado um crescimento significativo em instalações solares. Neste caso, a guerra na Ucrânia foi fundamental. Em resposta à crise energética resultante da guerra, muitos países decidiram acelerar sua transição para suas próprias fontes mais sustentáveis.

A energia nuclear está em declínio?

Embora continue sendo uma fonte de energia essencial em muitos países desenvolvidos, a energia nuclear está passando por uma desaceleração.

O envelhecimento das usinas elétricas existentes, os altos custos de construção de novas e os problemas associados aos resíduos que elas geram limitaram seu crescimento.

Além disso, alguns países, incluindo a Espanha, estão imersos em um plano para eliminar gradualmente seus reatores nucleares.

Mas, apesar disso, a energia nuclear continuará desempenhando um papel importante na descarbonização no curto prazo. No entanto, seu crescimento será muito mais limitado quando comparado ao das energias renováveis.

Desafios da energia fotovoltaica

Apesar das conquistas promissoras, a expansão da energia solar continua enfrentando desafios significativos. Entre as questões mais críticas para garantir a segurança energética estão a intermitência da produção, a necessidade de armazenamento em larga escala e a modernização das redes elétricas.

A necessidade de adaptar a infraestrutura para lidar com uma proporção cada vez maior de energia variável é crucial para mitigar quaisquer flutuações na rede que possam ter contribuído para o grande apagão na Península Ibérica em abril passado.