O El Niño finalmente chegou ao fim! Quais padrões climáticos serão destaque no cenário climático dos próximos meses?

As condições oceânicas confirmam: o El Niño já está de partida! Sem o El Niño nos próximos meses, e a La Niña demorando para se consolidar, voltamos nossos olhos a outras bacias oceânicas: Atlântico e Índico.

Fim do El Niño
Campo de anomalia global de TSM do último dia 16 de maio de 2024. Fonte: Climate Reanalyzer.

Após vários meses de atuação da fase positiva do padrão El Niño - Oscilação Sul (ENOS), finalmente podemos dizer que o El Niño chegou ao seu fim! As condições oceânicas mais recentes mostram que as anomalias de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) na região do Niño 3.4 finalmente voltaram a ficar abaixo do limiar de +0.5ºC, que determina uma fase de El Niño.

O El Niño se despede de vez neste mês de maio! Após sua partida, teremos alguns meses de condições de ENOS neutro até a chegada da La Niña no segundo semestre de 2024!

De acordo com a última atualização semanal do Centro de Previsão Climática (CPC) da NOAA, na última semana a região do Niño 3.4 registrou uma anomalia de +0.3ºC, valor que está dentro do intervalo de neutralidade do ENOS - entre -0.5ºC e +0.5ºC - e a tendência para as próximas semanas é que esses valores se mantenham. Portanto, já não temos mais as condições oceânicas do El Niño, o que confirma o final do evento neste mês de maio!

Além disso, também observamos um avanço e intensificação das anomalias negativas de TSM na porção mais a leste do Pacífico Tropical. A região do Niño 1+2 registrou uma anomalia de -0.4ºC na última semana, além de anomalias negativas estarem presentes e bem intensificadas na camada oceânica logo abaixo da superfície, o que indica que as TSMs nessa região mais central e leste do Pacífico Tropical não voltarão a esquentar tão cedo.

Como o sistema de acoplamento entre o oceano e atmosfera é complexo e mais lento, a atmosfera ainda apresenta alguns reflexos do El Niño. Porém, já observamos indícios do enfraquecimento da resposta atmosférica ao El Niño. Sobre o Pacífico Tropical os ventos alísios têm apresentado um comportamento próximo ao normal, além da convecção tropical, que voltou a se intensificar sobre o Pacífico Tropical Oeste, mostrando que a atmosfera está retornando ao seu padrão normal.

Quando chegará a La Niña?

Apesar de já estarmos observando anomalias negativas de TSM no Pacifico Tropical, e provavelmente essas anomalias ganharem força nas próximas semanas, ainda teremos um período de ENOS neutro antes da consolidação da La Niña.

Além das condições oceânicas, precisamos que a atmosfera também responda ao resfriamento do Pacífico Tropical, e esse acoplamento entre o oceano e atmosfera deve persistir por algumas semanas antes da La Niña ser declarada oficialmente, algo que poderá demorar.

Por esse motivo, previsões probabilísticas como as do CPC/NOAA colocam uma maior probabilidade de La Niña (acima de 60%) apenas a partir do trimestre Julho, Agosto e Setembro. Portanto, esperamos que a La Niña se inicie oficialmente mais próximo do inverno e início da primavera do Hemisfério Sul, com seus impactos ocorrendo a partir de meados da primavera e no verão de 2024-25.

Quais padrões climáticos atuarão nos próximos meses?

Com o ENOS em fase neutra nos próximos meses e a La Niña surgindo apenas no próximo semestre, temos que ficar atentos a outros padrões oceânicos que poderão influenciar o clima nos próximos meses, como os padrões de anomalias de TSM nas bacias do Atlântico e Índico.

Até a chegada da La Niña, as águas mais quentes que o normal no Atlântico Tropical e a fase positiva do Dipolo do Oceano Índico serão os principais padrões oceânicos a modular o clima do planeta!

O Atlântico tem registrado anomalias de TSM muito acima da média em sua porção mais tropical em ambos os hemisférios, anomalias que tem superado todas os registros históricos e batendo preocupantes recordes de calor. Essas águas mais quentes tiveram grande influência no padrão de chuvas sobre o norte da América do Sul nos últimos meses, e inclusive recentemente contribuíram para o aporte de umidade que intensificou as chuvas que causaram a grande catástrofe no estado brasileiro do Rio Grande do Sul.

Monitoramento e previsão do índice do Dipolo do Oceano Índico. Fonte: Bureau of Meteorology.

Com a persistência dessas águas mais quentes sobre o Atlântico Tropical, principalmente no Atlântico Tropical Norte, esperamos uma grande influência desse padrão no início da temporada de furacões. Essas águas mais quentes certamente servirão de combustível para a formação e intensificação de ciclones tropicais que se direcionarão para o Caribe e Estados Unidos.

No Índico temos observado também anomalias positivas de TSMs bem intensas principalmente na porção oeste, próximo à costa da África, o que fez com que os modelos passassem a indicar o desenvolvimento de uma fase positiva do Dipolo do Oceano Índico (DOI) a partir deste mês de maio. De acordo com a Bureau of Meteorology (BOM), se isso ocorrer, será antes da data tipicamente esperada de início de uma fase do DOI.

Previsões recentes da BOM indicam que essa fase positiva do DOI talvez não seja tão intensa, comparado ao que indicavam previsões anteriores. De qualquer forma, esse padrão de anomalias de TSM no Índico já tem provocado impactos em regiões como o leste da África e Península Arábica, e se uma fase positiva se consolidar, podemos esperar impactos ainda mais evidentes, inclusive na América do Sul e Brasil, principalmente durante a primavera.