Mudanças climáticas: quem vai pagar pelos danos no planeta?

Não é de hoje que se fala sobre aquecimento global e mudanças climáticas, não é de hoje que desastres são anunciados nas mídias, mas afinal, quem vai pagar pelos danos no planeta?

Desabrigados
Quando o desastre "natural" vem, quem são as pessoas que pagam cara pelas mudanças climáticas?

Muito se vê e muito se ouve sobre as consequências das mudanças climáticas, do aquecimento global, dos desastres "naturais" e das vítimas afetadas por um resultado instigado pelo próprio homem. Apesar das cenas chocantes e das perdas irreparáveis, ainda fica o questionamento: quem vai pagar pelos danos no planeta?

Será que toda a humanidade está de fato sujeita e principalmente preparada para as perdas causadas pela inundação, pelo vendaval, pela queimada, pela seca, pela geada, e um tornado, um furacão, um tsunami? Algumas nações podem até se recuperar "facilmente", mas e aquelas que vivem isoladas, em situações precárias, que necessitam de ajuda para viver, como vão sobreviver?

Em setembro de 2017, o furacão Irma com ventos de 300 km/h obrigou John Mussington a sair de casa e deixar seus bens e seus animais para trás na pequena ilha caribenha de Barbuda. Ele afirma: "foi devastador, as pessoas ficaram traumatizadas, havia construções sem teto e não tínhamos eletricidade". Assim como John, muitos se perguntaram, como sobreviver ao dia seguinte?

Furacão Irma

Com ventos fortes, o Irma danificou simplesmente todas as construções de Barbuda, onde 23% delas ficaram completamente devastadas. Um furacão pode acontecer desde o que mundo é mundo, porém, um estudo realizado em 2018 concluiu que as mudanças climáticas aumentaram a intensidade da destruição causada por esses fenômenos, aumentando a chuva de 5% a 10%.

furacão
Quando o furacão Irma estava prestes a atingir Barbuda, o governo local ordenou a evacuação de todos os habitantes da ilha.

Após a passagem do furacão, o choque foi agravado quando todos os 1,8 mil moradores de Barbuda foram evacuados durante o período de um mês para uma ilha vizinha, Antígua, o que virou a vida da população de cabeça para baixo. Imagine largar tudo sem querer e ser transportado para outro lugar.

Em recordação a tudo que viveu, Mussington conta que o mais traumático de tudo foi ficar sentado em Antígua preocupado com as fazendas, animais e negócios que ficaram em Barbuda. "Sou criador de abelhas, e todas as minhas colônias foram destruídas, perdi meu negócio, junto com muitos fazendeiros e pescadores".

O que acontece quando uma ilha se perde

Segundo Le-Anne Roper, coordenadora de perdas e danos da Aliança dos Pequenos Estados Insulares (Aosis), não existe adaptação para a perda, quando os países perdem suas ilhas devido ao aumento do nível do mar e eventos extremos, eles perdem sua cultura e suas tradições.

Barbuda
Todas as construções de Barbuda foram danificadas pelo furacão Irma e muitas delas ficaram totalmente inabitáveis.

Para os que nasceram em Barbuda, a destruição da biodiversidade e do ambiente local é uma violação direta do seu modo de vida. Mussington relata: "toda a nossa cultura, identidade e modo de vida são relacionados ao meio ambiente e aos recursos naturais, passamos o tempo livre fora de casa, pescando, caçando e acampando junto à natureza, é parte da nossa identidade em Barbuda".

A luta da Aosis

A instituição que defende os interesses de 39 pequenas nações insulares nas negociações globais sobre o clima, levantou a questão de perdas e danos pela primeira vez em 1991, pouco tempo depois da sua fundação, quando pediu apoio aos ilhéus que enfrentam o aumento do nível do mar.

Assim como ocorre em tantos lugares e situações, os países ricos apresentaram forte resistência a esses apelos, pois segundo eles, o auxílio humanitário é suficiente para lidar com essas questões.

seca
Uma forma de reduzir os danos causados pelas mudanças climáticas é melhorar os sistemas de alerta.

Durante os 30 anos que se seguiram, pequenos Estados e outros países mais vulneráveis às ações climáticas, continuaram a pedir ajudar aos países mais ricos com o argumento que eles devem pagar por perdas e danos causados pelo clima já que são os principais responsáveis por quase 80% do histórico de emissões de gases poluentes.

Glasgow

Recentemente, durante as discussões sobre o clima global das Nações Unidas em Glasgow, no Reino Unido, os países em desenvolvimento travaram uma luta árdua para a criação de uma agência formal dedicada ao financiamento de perdas e danos, a ser subordinada à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC, na sigla em inglês), para fornecer novo apoio financeiro às nações afetadas.

Entretanto, o pacto final de Glasgow sobre o clima não fez referência ao financiamento climático para cobrir os valores crescentes de perdas e danos em países em desenvolvimento. Os países ricos alegaram que estabeleceriam um diálogo para discutir mecanismos para o financiamento de atividades para evitar, minimizar e combater perdas e danos.