Crise: INMET decide descontinuar estações centenárias e reduzir drasticamente sua presença efetiva no Brasil

Entre os planos de reestruturação do INMET estão o desligamento de estações meteorológicas centenárias, assim como seus funcionários, substituindo-os por equipamentos automáticos.

Escritório da estação do INMET de Lagoa Vermelha (RS) que foi fechado semana passada.
Escritório da estação do INMET de Lagoa Vermelha (RS) que foi fechado semana passada. Os funcionários foram pegos de surpresa pelo anúncio (imagem: Tua Rádio Cacique)

Nos últimos anos, o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), que possui 115 anos de história dedicados à coleta e análise de dados climáticos no Brasil, tem efetivamente passado por um processo de sucateamento, sofrendo perdas de profissionais e grandes números de falhas operacionais em sua rede de estações meteorológicas.

Desde 2020, o orçamento destinado ao INMET tem sido insuficiente para manter suas atividades até o fim do ano de exercício. Agora, o órgão está implementando um processo nacional de reestruturação, que infelizmente está diminuindo sua presença física em diversas cidades brasileiras.

Fechamento de estações meteorológicas centenárias

Na última semana, virou notícia o fato de que a estação meteorológica de Lagoa Vermelha (RS), que funcionava desde 1914, foi oficialmente desativada. Pâmela Bittencourt Falkenback era a terceira geração de sua família a cuidar da estação e foi informada pelo whatsapp, sem aviso prévio, de que seria demitida.

Dezenas de outras estações também foram fechadas em todo o território brasileiro. Uma das estações mais antigas do país, aberta em 1920 em São Simão (SP) foi fechada no final do ano passado depois que a única funcionária da estação se aposentou.

Além de não haver ninguém para substituí-la, alguns equipamentos estavam quebrados há anos e não foram substituídos pelo órgão, evidenciando o processo de sucateamento.

Campo de medição das variáveis meteorológicas e seus instrumentos, localizados na estação do INMET de Lagoa Vermelha.
Campo de medição das variáveis meteorológicas e seus instrumentos, localizados na estação do INMET de Lagoa Vermelha (RS) que foi fechada semana passada (imagem: Tua Rádio Cacique)

No início do ano, uma pesquisa conduzida pelo vice-reitor da Unisinos, Artur Eugênio Jacobus, mostrou que mais da metade das estações meteorológicas do INMET analisadas apresentou falhas. Há estações como a de Recife (PE) que já estão a anos sem enviar dados para o banco do INMET.

Muitas das áreas avaliadas pela Unisinos apresentam alto potencial agrícola, enquanto outras são altamente urbanizadas. Ou seja, são regiões que dependem fortemente de informações meteorológicas para manter suas atividades agropecuárias e sua infraestrutura em funcionamento.

O percentual de estações operantes no INMET chegou a cair para 50% em alguns momentos, o que influencia negativamente não só a qualidade das previsões e dos serviços meteorológicos brasileiros, como também diversas áreas da indústria que dependem dessas informações.

Um futuro sem estações convencionais

O fato é que, graças à crise em que o INMET se encontra, o órgão precisou mudar drasticamente alguns planos de atuação. As novas estratégias preveem, por exemplo, a substituição de todas as estações meteorológicas convencionais, trocando-as por estações automáticas.

Rio Grande do Sul afetado pelas enchentes de 2024 e 2025.
Um dos tópicos atacados na reestruturação do INMET é a recomposição da rede meteorológica do Rio Grande do Sul, muito afetada pelas enchentes de 2024 e 2025. (imagem: Marcelo Caumors)

A decisão de substituir pessoal especializado por equipamento automático possui uma série óbvia de desvantagens, mas infelizmente é mais viável dado o baixo orçamento disponibilizado.

Por outro lado, o plano prevê diversas atividades para melhoria das observações meteorológicas, que incluem:

  • Alocação de crédito orçamentário no valor de 25 milhões de reais para a recomposição da rede meteorológica do Rio Grande do Sul, substituindo equipamentos e infraestrutura danificados e obsoletos;
  • Ampliação da cobertura das bacias hidrográficas do rio São Francisco e Parnaíba através de um investimento de 46 milhões de reais captados junto à Eletrobras;
  • Ampliação da rede de monitoramento meteorológico por meio da expansão das estações meteorológicas automáticas, através de um investimento de 49 milhões de reais captado junto ao FNDCT.

Com isso, estamos observando o fim de uma era. Após anos de desmonte do INMET, suas estações meteorológicas centenárias, que foram cruciais para o estudo e para a compreensão do clima no Brasil, estão sendo substituídas por estações automáticas.

Torcemos, agora, para que os resultados finais dessa reestruturação sejam benéficos para a população, e não mais um dos tantos retrocessos que observamos nos últimos seis anos com relação à pesquisa científica do Brasil.