Segundo um estudo, os passageiros de avião estão expostos a níveis muito elevados de poluição por partículas ultrafinas
Um novo estudo científico alerta que os passageiros de companhias aéreas estão expostos a concentrações muito elevadas de partículas ultrafinas durante várias fases do voo. Isso reforça a preocupação da comunidade médica e ambiental com um poluente praticamente não regulamentado e com potenciais efeitos graves para a saúde.

Partículas ultrafinas, conhecidas como UFPs, são poluentes microscópicos gerados principalmente por processos de combustão. Pesquisas recentes mostram que as concentrações dentro de aeronaves excedem em muito os níveis considerados altos em ambientes urbanos, especialmente durante o embarque, o táxi e o pouso.
Um estudo publicado na revista Environment International e divulgado por The Guardian documentou que esses níveis podem dobrar os altos limites definidos pelo Organização Mundial de Saúde. Devido ao seu tamanho extremamente pequeno, essas partículas contornam os mecanismos de defesa do sistema respiratório e chegam à corrente sanguínea, representando um risco silencioso para milhões de pessoas.
Ao contrário de outras formas de poluição atmosférica, como as PM2,5, as partículas ultrafinas não são especificamente regulamentadas na maioria dos países. Isso permitiu que seu impacto passasse despercebido por anos, apesar do acúmulo constante de evidências científicas sobre seus efeitos adversos na literatura médica e ambiental.
O que a ciência revela sobre a exposição em voos comerciais
Medições realizadas a bordo de voos europeus indicam que os níveis mais elevados de partículas ultrafinas ocorrem quando a aeronave está no solo ou em baixa altitude. Nessas fases, os motores, os sistemas auxiliares e a proximidade com outras aeronaves criam um ambiente altamente poluído dentro da cabine.
A new study shows that passengers and airport workers are exposed to high levels of ultra-fine particles when boarding a plane - twice the level that the WHO defines as high. Similar levels are found when a plane takes off and lands. Passenger exposure only decreased at cruise
— The Aviation Environment Federation (@The_AEF) December 15, 2025
Embora a qualidade do ar geralmente melhore durante voos de cruzeiro graças à introdução de ar externo filtrado, momentos críticos durante o voo coincidem com o maior número de passageiros sentados, tornando impossível reduzir sua exposição. Isso faz da cabine um microambiente de particular preocupação para a saúde pública, segundo os autores do estudo.
Pesquisas anteriores já haviam indicado que a exposição repetida a partículas ultrafinas está associada à inflamação pulmonar, estresse oxidativo e problemas cardiovasculares. Um estudo publicado anteriormente na revista Environment International reforça essas ligações e destaca que mesmo exposições de curto prazo podem ter efeitos biológicos mensuráveis.
Um problema que vai além dos passageiros e exige regulamentação
O impacto das partículas ultrafinas não se limita ao interior das aeronaves. Estudos na área da química ambiental mostram que as emissões aeronáuticas contribuem significativamente para a poluição em áreas próximas a aeroportos, afetando trabalhadores e comunidades inteiras.

A Organização Mundial da Saúde reconhece as partículas ultrafinas como um poluente emergente de significativa preocupação para a saúde. Em um relatório técnico recente, a OMS destaca a necessidade urgente de aprimorar o monitoramento, a pesquisa e o marco regulatório associados a esse tipo de poluição atmosférica.
Especialistas em saúde ambiental concordam que a eletrificação dos equipamentos de solo, a redução do uso de motores auxiliares e a implementação de sistemas de monitoramento contínuo poderiam diminuir significativamente a exposição. Sem regulamentações claras e informações transparentes para os passageiros, a poluição por partículas ultrafinas na aviação continuará sendo uma ameaça invisível.
Referências da notícia
Femke Bouma, Nicole AH Janssen, Joost Wesseling, Sjoerd van Ratingen, Maciek Strak, Jules Kerckhoffs, Ulrike Gehring, Wouter Hendricx, Kees de Hoogh, Roel Vermeulen, Gerard Hoek, Long-term exposure to ultrafine particles and natural and cause-specific mortality, https://doi.org/10.1016/j.envint.2023.107960.
Impacts of Aviation Emissions on Near-Airport Residential Air Quality Neelakshi Hudda, Liam W. Durant, Scott A. Fruin, and John L. Durant Environmental Science & Technology 2020 54 (14), 8580-8588 DOI: https://doi.org/10.1021/acs.est.0c01859/10.1021/acs.est.0c01859