Quais efeitos a poluição tem no cérebro? Segundo novo estudo, afeta a concentração e as emoções

De acordo com uma pesquisa feira pelas Universidades de Birmingham e de Manchester, a poluição do ar afeta a nossa mente e torna as tarefas cotidianas mais difíceis.

ar poluído
A poluição do ar afeta a atenção seletiva e o reconhecimento de emoções, de acordo com um novo estudo.

Um novo estudo revelou que a capacidade das pessoas de interpretar emoções ou se concentrar em uma tarefa é reduzida pela exposição de curto prazo à poluição do ar por material particulado (MP). Essa exposição pode dificultar atividades diárias como fazer as compras semanais de supermercado.

No estudo publicado na revista Nature Communications, pesquisadores das Universidades de Birmingham e de Manchester revelaram que a atenção seletiva e o reconhecimento de emoções foram afetados negativamente pela poluição do ar, independentemente de os indivíduos respirarem normalmente ou apenas pela boca.

Como os efeitos observados podem ser devidos a processos inflamatórios sistêmicos, pesquisas futuras podem explorar o uso de intervenções anti-inflamatórias para mitigar os impactos da poluição do ar na cognição.

Os cientistas descobriram que mesmo uma breve exposição a altas concentrações de PM pode afetar a capacidade de uma pessoa de se concentrar em tarefas, evitar distrações e se comportar de maneiras socialmente aceitáveis. Não se sabe se esses efeitos são devidos principalmente à via olfativa ou à conexão pulmão-cérebro.

Os efeitos da poluição no cérebro

Neste estudo, 26 adultos com idade média de 27,7 anos foram expostos a altos níveis de poluição do ar, ao uso de fumaça de velas e ao ar limpo, e suas habilidades cognitivas foram avaliadas antes e quatro horas depois da exposição. Os testes mediram memória de trabalho, atenção seletiva, reconhecimento de emoções, velocidade psicomotora e atenção sustentada.

Os resultados mostraram reduções significativas na atenção seletiva e no reconhecimento de expressões emocionais após exposição a PM elevado em comparação ao ar limpo. A qualidade do ar não afetou significativamente o desempenho na velocidade psicomotora ou na memória de trabalho. O método de inalação não mediou significativamente os efeitos, sugerindo que a poluição de curto prazo por PM afeta a função cognitiva por meio de mecanismos pulmão-cérebro, direta ou indiretamente.

Especialistas sugerem que a inflamação causada pela poluição pode ser responsável por esses déficits, observando que, embora a memória de trabalho não tenha sido afetada, algumas funções cerebrais são mais resistentes à exposição de curto prazo à poluição.

As conclusões preocupantes dos autores do estudo

O Dr. Thomas Faherty, da Universidade de Birmingham, disse: "Nosso estudo fornece evidências convincentes de que até mesmo a exposição de curto prazo a partículas pode ter efeitos negativos imediatos nas funções cerebrais essenciais para atividades diárias, como fazer as compras semanais no supermercado".

O professor Francis Pope, também da Universidade de Birmingham, disse: "A má qualidade do ar prejudica o desenvolvimento intelectual e a produtividade no trabalho, com implicações sociais e econômicas significativas em um mundo de alta tecnologia que depende da excelência cognitiva".

Outros efeitos da poluição na saúde

Globalmente, a poluição do ar é o principal fator de risco ambiental para a saúde humana, aumentando a mortalidade prematura. Os impactos negativos da má qualidade do ar nos sistemas cardiovascular e respiratório são amplamente documentados.

Mais recentemente, um número crescente de estudos sugere uma ligação entre a exposição prolongada à má qualidade do ar e o desenvolvimento neurológico alterado, bem como a incidência de doenças neurodegenerativas, como esclerose múltipla, Alzheimer e Parkinson, além de doenças neuropsicológicas. Essas doenças são caracterizadas por uma deterioração da função cognitiva devido à morte de neurônios corticais.

Este estudo destaca a necessidade de mais pesquisas para entender como a poluição do ar afeta as funções cognitivas e explorar os impactos a longo prazo, especialmente em populações vulneráveis, como crianças e idosos.

O fato de os efeitos terem ocorrido independentemente da via de inalação sugere que a poluição afeta a cognição principalmente por meio de mecanismos pulmão-cérebro, em vez de uma via direta pelo sistema olfativo. Isso destaca a importância de considerar os efeitos neurocognitivos da poluição do ar nas políticas de saúde pública e no desenvolvimento de estratégias para mitigar seu impacto.

Referência da notícia

Acute particulate matter exposure diminishes executive cognitive functioning after four hours regardless of inhalation pathway. 06 de fevereiro, 2025. Faherty, et al.