Brasil amplia exploração de petróleo na Amazônia às vésperas da COP 30; entenda a contradição
Mesmo defendendo metas climáticas em fóruns internacionais, o país aprofunda sua exploração petrolífera, ampliando riscos ambientais, fortalecendo multinacionais do setor energético e adiando a transição para fontes limpas.

Enquanto busca protagonismo em fóruns climáticos, o Brasil avança silenciosamente sobre novas fronteiras fósseis. Em uma semana marcada por decisões controversas, o país autorizou a perfuração de um bloco na foz do Amazonas e leiloou sete áreas de exploração no pré-sal, colocando em xeque o discurso de transição energética defendido pelo governo.
Na última quarta-feira (22), a Agência Nacional do Petróleo (ANP) conduziu o 3º Ciclo da Oferta Permanente de Partilha (OPP). Das 13 áreas disponíveis, sete receberam propostas — situadas nas bacias de Campos e Santos, regiões com alto potencial produtivo. Ao todo, 15 empresas foram habilitadas, entre elas a Petrobras e multinacionais como Shell, Chevron, TotalEnergies e QatarEnergy.
Acordos bilionários com alta emissão de carbono
Apesar das promessas de um modelo mais sustentável, a realidade é outra. No regime de partilha, o valor pago inicialmente pelas empresas — chamado de bônus de assinatura — é fixo. O verdadeiro diferencial competitivo está na fatia do chamado excedente de óleo, ou seja, o volume de produção que será entregue à União após deduzidos os custos operacionais.
No entanto, esse tipo de expansão tem impactos diretos na pegada de carbono do país. O Brasil já ocupa a sexta posição entre os maiores emissores de gases de efeito estufa do planeta, segundo relatório recente da ONG Urgewald. As projeções indicam que apenas a produção atual poderá, sozinha, ultrapassar as metas climáticas estabelecidas até 2033.
Perfuração na Amazônia acende alerta global
Paralelamente ao leilão, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) autorizou a perfuração do bloco FZA-M-59, na Margem Equatorial, região conhecida por sua alta sensibilidade ecológica. A autorização foi concedida à Petrobras, mesmo diante de pareceres técnicos contrários de servidores do próprio órgão ambiental.
Além disso, não houve consulta prévia às comunidades pesqueiras e indígenas, descumprindo a Convenção 169 da OIT. A área, que se estende do Amapá ao Rio Grande do Norte, abriga um dos ecossistemas marinhos mais ricos do planeta e tem atraído o interesse de consórcios internacionais, como o formado por Chevron e CNPC, vencedores de blocos no Cone do Amazonas.
O contraste entre o discurso e a prática se intensifica diante da proximidade da COP30, marcada para ocorrer em Belém, no Pará, em 2025. Enquanto se apresenta como liderança climática, o Brasil continua apostando em uma matriz energética baseada em combustíveis fósseis.
No fim das contas, a escolha não é apenas técnica, mas profundamente política. E o dilema permanece: expandir a produção em nome da arrecadação imediata ou acelerar a transição para fontes limpas e sustentáveis?
Referências da notícia
Petróleo na foz do Amazonas e ampliação do pré-sal: Brasil segue com expansão silenciosa de suas fronteiras fósseis. 23 de outubro, 2025.
ANP leiloa nesta quarta sete blocos de petróleo no pré-sal. 22 de outubro, 2025.