As correntes do Oceano Atlântico estão ficando mais lentas

Estudos recentes tem mostrado que a circulação do Oceano Atlântico está desacelerando nos últimos anos. Esta circulação tem papel importante na distribuição de calor pelo globo e alterações em seu funcionamento trarão consequências severas para clima.

As correntes ocêanicas do Atlântico estão desacelerando nos últimos 150 anos. Crédito: NASA's Goddard Space Flight Center.

A circulação do Atlântico, uma das peças chave para manter o clima na Terra, diminuiu muito nos últimos 150 anos. Um estudo publicado na Nature em abril deste ano mostra que, apesar deste processo ter começado de forma natural, ele está sendo intensificado e prolongado pelas mudanças climáticas geradas por atividades humanas.

As correntes do Atlântico são parte da chamada circulação termohalina. Nela, as águas são movidas por sua densidade, que é controlada pela temperatura e quantidade de sal (salinidade). Assim, águas mais frias e mais salinas, tendem a afundar por serem mais densas ("pesadas"), enquanto águas mais quente e menos salinas tendem a subir.

O importante papel do Oceano Atlântico

Apesar da circulação termohalina ter abrangência global, o Oceano Atlântico é fundamental para seu funcionamento. Isto porque as correntes oceânicas do Atlântico transportam águas quente do Atlântico Equatorial e Sul para o Atlântico Norte promovendo um acúmulo de calor na região sub-polar, próximo à Groenlândia. Este calor é capturado pela atmosfera e distribuído através do ventos para a costa oeste da Europa. Por essa razão, países como Irlanda e Inglaterra possuem uma clima mais quente que o Canadá, apesar de eles estarem na mesma faixa de latitude.

O derretimento do Ártico, especialmente na Groenlândia, está deixando a água naquela região menos salina.

Quando as águas na região sub-polar perdem calor para a atmosfera, ela ficam mais frias e mais densas, o que promove seu afundamento. Quando a água fria que estava na superfície afunda, as águas quentes mais ao sul ocupam seu lugar na superfície. As água quentes, por sua vez, irão afundar quando perderem calor pra atmosfera, dando continuidade à circulação do Atlântico. Fatores que modifiquem ou impeçam o afundamento de águas naquele ponto do Atlântico Norte comprometem a continuidade da circulação termohalina e, consequentemente, a distribuição de calor no planeta.

Um outro estudo recente da Nature mostra que devido ao derretimento do Ártico, especialmente na Groenlândia, a água naquela região está ficando menos salina. A adição de água doce do degelo faz com que a densidade da água do mar fique menor e impede seu afundamento. Dessa forma, a água fria fica estagnada na superfície impedindo a entrada da mais água quente do sul e a continuidade da circulação.

A água fria fica estagnada na superfície impedindo o transporte de águas mais quente para o norte. Modificado de Levke Caesar/Potsdam Institute for Climate Impact Research.

Quais são as consequências?

As consequências dessa interrupção são vastas e ainda não foram completamente entendidas. O clima da costa oeste da Europa será afetado por não receber mais calor do Atlântico Norte. A diminuição da interação oceano-atmosfera reduzirá o fluxo de umidade, o que poderá alterar padrão de chuvas em todo o globo. Estudos indicam que até a ocorrência de ciclones tropicais está diminuindo, devido a essas mudanças da circulação termohalina.

Existe uma forte hipótese de que a ineficiência da circulação do Atlântico afetaria a distribuição de calor no planeta, podendo trazer uma uma nova era do gelo. Essa sequencia de eventos é mostrada de forma exagerada e acelerada no filme Um Dia Depois De Amanhã (Day After Tomorrow, 2004). Tudo indica que este processo será lento e gradual, mas com severos impactos no clima como conhecemos hoje, que ainda precisam ser melhor entendidos.