Cisalhamento do vento: fator agravante das tempestades

Quando se fala em tempestades, o cisalhamento do vento (wind shear em inglês) é um fator agravante, pois potencializa a trovoada e aumenta o seu grau de severidade. Durante o verão no Brasil, predominam trovoadas de curta duração e menos severas, entenda o porquê disso.

Cumulonimbus em ambiente atmosférico sem cisalhamento vertical do vento.

A mudança da velocidade do vento com a altura (cisalhamento vertical) é um fator agravante para tempo severo. Em uma atmosfera onde o perfil vertical do vento não apresenta variações, dificilmente uma tempestade severa se desenvolverá, isso porque as nuvens que se formam nestas condições possuem correntes ascendentes e descendentes disputando lugar dentro da tempestade. Até que chega o momento em que a corrente descendente e a chuva destroem a corrente ascendente (updraft), que por fim dissipam a trovoada (típicas tempestades de verão no Brasil).

Já as tempestades que são formadas em um ambiente em que os ventos aumentam de velocidade com a altura, elas apresentam um potencial maior para gerar tempo severo, incluindo granizo, ventos fortes e até a formação de supercélulas com eventos tornádicos destrutivos. Esse tipo de tempestade é mais forte e duradoura pelo fato da corrente ascendente ser inclinada e não disputar lugar com a corrente descendente dentro da nuvem.

O cisalhamento do vento é um fenômeno de latitudes médias, região de combate entre massas de ar distintas. Talvez isso te esclareça o motivo pelo qual as tempestades severas ocorrem com maior frequência nas latitudes dos Estados Unidos, Europa, Argentina, Uruguai e parte do Sul do Brasil, por exemplo.

Determinadas configurações sinóticas preparam o ambiente para que haja tempo severo. Fortes trovoadas e até supercélulas se formam com facilidade nas regiões pré-frontais quando existe a dosagem certa de ingredientes como calor, umidade, instabilidade e cisalhamento do vento. Além disso, o cisalhamento do vento também impacta na evolução de trovoadas severas, podendo gerar um mesociclone dentro da tempestade, o que caracteriza uma supercélula.

A maior parte do território nacional está localizada no que os meteorologistas chamam por atmosfera barotrópica, região em que não há contrastes horizontais de temperatura como nas latitudes médias e, portanto, não existe cisalhamento vertical do vento. Deste modo, durante o período chuvoso, os cumulonimbus que se desenvolvem no Brasil tropical possuem formato de torres, mas é comum apresentarem o topo (bigorna) arrastado pelos ventos mais fortes contidos apenas nos altos níveis da troposfera.

No twitter acima, está o exemplo de formação de várias trovoadas de verão em fevereiro de 2006. É possível identificar a circulação da Alta da Bolívia (ventos fortes em altos níveis) arrastando os topos dos cumulonimbus anticiclonicamente.