Animais marinhos são os mais vulneráveis ao aquecimento

O impacto das mudanças climáticas na biodiversidade é uma preocupação atual. Um novo estudo publicado na Nature mostra que espécies marinhas são mais vulneráveis ao aumento de temperatura do que espécies terrestres.

Um novo estudo mostrou que espécies ectotérmicas marinhas são mais termicamente vulneráveis que as terrestres.

Estamos diante de constantes alertas sobre a perda de biodiversidade no planeta devido às mudanças climáticas. Conter ou até reverter a situação depende de medidas de conservação que devem ser guiadas por estudos que nos ajudem a entender quais espécies e ecossistemas são mais afetados. Um novo estudo, publicado na Nature em Abril, combinou dados experimentais com modelagem e mostrou que espécies marinhas são mais vulneráveis ao aumento de temperatura do que as terrestres.

Este artigo utilizou uma metodologia complexa para responder uma questão que é motivo de contradição no meio científico, pois existe grande dificuldade em se estimar e comparar a vulnerabilidade de espécies terrestres e marinhas. Alguns estudos mostram evidências de que as espécies terrestres estão sobre maior risco por terem maior dificuldade de se adaptarem a novas condições climáticas e estarem expostas a maiores extremos de temperaturas. No entanto, espécies oceânicas podem ser mais afetadas já que a temperatura ambiente controla sua distribuição geográfica, disponibilidade de nutriente e disponibilidade de oxigênio no oceano.

Pinsky e seus colaboradores, partiram do conceito básico de que cada espécie possui um intervalo de temperatura considerada seguro para o funcionamento de seu organismo. Dessa forma, as autores definiram uma “margem de segurança térmica”: a diferença entre a máxima temperatura na qual um animal será submetido no ambiente e a máxima temperatura em que a espécie consegue viver. Esse valor é um índice de estresse fisiológico animal, e por tanto, um indicativo da vulnerabilidade de cada espécie.

A equipe utilizou apenas animais ectotérmico que já são mais vulneráveis por dependerem de fatores externos e comportamentais para regularem sua temperatura interna. Espécies de peixes ósseos, tubarões, moluscos, crustáceos, insetos, répites e aranhas foram analisadas. A “margem de segurança térmica” foi calculado para um total de 387 espécies, considerando a presença ou não de refúgios em elevadas temperaturas. Refúgios térmicos em terra incluem microclimas gerados por sombras de pedras e árvores, enquanto no oceano, são águas mais profundas e geladas.

Os resultados mostraram que os menores valores de margem de segurança térmica foram encontrados no oceano, o que significa que espécies marinhas são mais vulneráveis ao aumento de temperatura que espécies terrestres. No entanto, sem a presença de refúgios térmicos, as espécies terrestres são mais vulneráveis por ficarem completamente expostas aos extremos de temperatura. Do ponto de vista de distribuição pelo globo, espécies terrestres que ocupam as latitudes médias (30º-60ºS) são mais vulneráveis, enquanto no ambiente marinho, as espécies equatoriais são mais susceptíveis ao aumento de temperatura.

Os autores sugerem que fatores distintos podem agravar o aumento da vulnerabilidade termal nesses dois ambientes. No oceano, as espécies tem uma maior sensibilidade ao aquecimento e maiores taxas de colonização, por isso, o desaparecimento e "substituição" de espécies poderão ocorrer mais rápidos. Já as espécies terrestres parecem ser mais frágeis à perda de acesso a refúgios termais, como cobertura vegetal e tocas. Dessa forma, a fragmentação dos habitat terrestres e mudanças no uso de terra decorrente da ocupação humana desordenada e desflorestamento são os fatores críticos que contribuem para a perda da fauna terrestre.