Aquecimento global pode diminuir a ocorrência de ciclones tropicais?

Estudo aponta que aquecimento global pode causar menos ciclones tropicais, porém, aqueles que se formam têm maior chance de se tornarem tempestades intensas.

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Furacão se aproximando do continente americano visível acima da Terra, uma visão do satélite. Imagem: NASA.

O aquecimento global é discutido e acompanhado há muito tempo por cientistas e toda a humanidade que se preocupa com o futuro da vida na Terra. Tal mudança, no entanto, vem tornando a atmosfera um ambiente mais desfavorável à formação de ciclones tropicais.

No início de 2010, havia cerca de 13% menos tempestades em todos os oceanos do que no final do século 19, isso segundo um novo estudo publicado nesta última segunda-feira (27) na Nature Climate Change.

O que seria uma notícia boa se não houvesse um porém. Mas ter menos furacões e tufões não os torna menos ameaçadores.

Aqueles que conseguem se formar têm uma maior probabilidade de atingir intensidades mais altas à medida que o mundo continua em aquecimento com a queima de combustíveis fósseis segundo os estudos.

Aliás, os cientistas tentam há décadas responder à questão de como essas mudanças climáticas poderiam de fato afetar a formação dos ciclones tropicais, que uma vez configurados, podem provocar mortes e destruição em larga escala.

Aquecimento global e a diminuição de ciclones tropicais

Alguns modelos climáticos utilizados no estudo, sugeriram que o número de tempestades pode diminuir à medida que as temperaturas do planeta aumentam, mas apesar disso, nada foi confirmado no registro histórico.

O novo estudo contornou essas limitações usando o que é chamado de reanálise, que significa que as observações disponíveis da mais alta qualidade são inseridas em um modelo de computador meteorológico.

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Uma fotografia do supertufão Maysak foi tirada pela astronauta da Agência Espacial Europeia Samantha Cristoforetti quando a Estação Espacial Internacional passou perto da tempestade em 31 de março de 2015. Crédito: Samantha Cristoforetti/ESA/NASA.

O coautor do estudo Savin Chand, cientista atmosférico da Universidade de Ballarat (Federation University Australia) relata que utilizar a reanálise é algo que nos aproxima de como seria a observação real, além de preencher lacunas importantes.

Segundo Chand, isso dá aos pesquisadores uma imagem razoavelmente realista da atmosfera ao longo do tempo, neste caso, voltando a 1850. Ele e sua equipe, desenvolveram um algoritmo que poderia identificar ciclones tropicais nesse conjunto de dados de reanálise, permitindo que eles procurassem tendências em um período de 162 anos.

De fato os ciclone tropicais diminuem com o aquecimento global?

Através do estudo, foi encontrada uma diminuição global em torno de 13% nos ciclones tropicais no período de 1900 a 2012, em comparação com 1850 a 1900 (este último é amplamente considerado um período de referência pré-aquecimento global).

O mais incrível, é que foi encontrado um declínio ainda maior de cerca de 23% por volta de 1950, na época em que as temperaturas globais começaram a aumentar visivelmente. Vale ressaltar que os declínios variam em diferentes partes do oceano.

No lado oeste do Oceano Pacífico Norte foram relatadas 9% menos tempestades, e no lado leste do Oceano Pacífico Norte, 18% menos ao longo do século 20 e início do século 21. Os resultados do Oceano Atlântico Norte indicaram uma tendência peculiar, mostrando uma diminuição geral ao longo do século passado, porém com um aumento nas últimas décadas.

Esse aumento de curto prazo pode estar ligado a variações climáticas naturais.

O estudo fornece informações fundamentais para avaliar projeções de modelos climáticos sobre futuras frequências dos ciclones tropicais, segundo Kimberly Wood, meteorologista tropical da Mississippi State University, que não esteve envolvida no artigo, e diz que Chand e seus colegas, vinculam a diminuição na frequência de tempestades tropicais a mudanças nas condições atmosféricas que restringem a convecção, um processo em que o ar quente e úmido sobe na atmosfera, o que permite que os ciclones tropicais se desenvolvam a partir de pequenos distúrbios climáticos que atuam como geradores.

Chand salienta a visão de sua equipe, isso porque, mesmo que haja menos ciclones tropicais em geral, espera-se que uma proporção maior dos sistemas que se formam atinja intensidades mais altas, pois o aquecimento global também está elevando as temperaturas da superfície do mar, ou seja, tornando a atmosfera mais quente e úmida, condições perfeitas em que essas tempestades prosperam. Uma vez que um ciclone tropical se forma, há muito combustível na atmosfera.